Por décadas uma das principais figuras da cena cultural de São Bernardo, Odete teve contato com o mundo das artes desde a infância em Santos (onde nasceu em junho de 1915) e em São Paulo, para onde mudou-se no ano seguinte. Seus  pais, os portugueses Firmina d'Assumpção Horta Viega e João Domingues Tavares, “adoravam cinema, teatro e concertos, bem como exposições de arte” (1) e tinham contato, por meio do Centro Republicano Português, presidido por João, com artistas e intelectuais de origem lusitana  em passagem pelo Brasil .  Demonstrou cedo aptidão para a música, tendo começado a estudar piano, com professores particulares, aos sete anos; aos 9 já compôs sua primeira música, uma toada intitulada “Sonho do Jeca”.
 
Na década de 20, Odette conheceria  São Bernardo, onde seu pai  adquiriu terras no local hoje  ocupado pela Vila Gonçalves, tendo ali instalado uma chácara, e planejado um loteamento, denominado Via Tavares. Em 1930, com dificuldades financeiras, a família acabaria saindo de Moema, onde moravam, e se mudando  para a chácara , o que obrigou   Odete a parar seus estudos no colégio Independência em São Paulo.  Quatro anos depois, ela se casaria com Alberto Bellinghausen, proprietário de uma fábrica de móveis na Rua Thomé de Souza, com quem teve seis filhos. Nessa altura,  já dava aulas de piano  e acordeon para amigos e vizinhos, formando turmas com cerca de  10 alunos, conciliando tais atividades com os afazeres domésticos. Em 1936 foi co-fundadora do  Centro de Cultura Humberto de Campos,  que durou apenas dois anos, mas a tempo de fazer história ao realizar a primeira mostra  de artes plásticas feita na cidade, reunindo artistas autodidatas locais. Em 1944 fundaria a Associação Feminina Beneficente Bartira, entidade que promoveu diversas campanhas filantrópicas,  como a do  Natal dos pobres e a de distribuição de agasalhos e cobertores  no inverno. A Bartira também realizava apresentações artísticas, tendo inclusive um coral, liderado por Odette. Um dos shows  por ela promovido  foi  em prol da fundação de uma biblioteca pública na cidade, sonho que se concretiza em 1958. Odete muito a se empenharia na criação desta, doando centenas de livros e pressionando as autoridades municipais. 
 
Tendo complementado seus estudos musicais no Conservatório Santa Cecília, Santo André, em 1956-8, continuou por décadas ensinando (2),  fazendo apresentações de piano e criando música: tem mais de 100 composições.  Por uma delas receberia, em 1952, o troféu Catulo da Paixão Cearense pelo quarto lugar em um concurso de composição musical realizado pela Rádio Tupi (3), que teve  mais de mil concorrentes. Compôs também músicas e enredo de um ballet, intitulado “O Sonho da Menina Triste”, apresentado pela escola de dança de Manon Freire Giorgi, em 1975. Não se limitando à música, também demonstrou ao longo da vida interesse pelas artes plásticas; na juventude tivera as primeiras noções de pintura em aulas com uma religiosa, em Santo André. Posteriormente, em meados dos anos 70, voltaria a estudar pintura e desenho na ASBA (Associação São-Bernardense de Belas Artes), instituição que ela ajudou a fundar, em 1958. Chegaria a expor seus trabalhos em salões de arte em Ribeirão Pires, Santo André e Jundiaí.
 
Divulgando, comentando e criticando semanalmente o cenário cultural na região, Odete, nas décadas de 60 e 70, escreveu para os jornais Folha de São Bernardo e Gazeta de São Bernardo as colunas  “Falando em Arte” e “Arte e Outras Coisas” (2). Nelas cobrava as autoridades pela melhoria e ampliação dos espaços culturais da cidade, uma preocupação constante em sua trajetória. Até nos últimos anos de vida, quando participou do início do movimento SOS Câmara, que levaria ao tombamento, em 1995, do prédio da antiga Câmara Municipal, destinado para uso cultural com a criação da Câmara de Cultura em 1997. Odette, porém, não viveu para ver a inauguração do novo espaço, tendo falecido em outubro de 1995, aos 80 anos. 
 
 
 
Nas imagens vemos Odette, acima num recital de piano no Centro Cultural São Paulo, em novembro de 1986; abaixo, ela e sua mãe (de vestido preto) trabalhando na campanha do agasalho da Associação Bartira, na antiga Sociedade Italiana (Rua Marechal Deodoro), em 1951.
 
 
Notas:
 
(1) Autobiografia escrita por Odette, em 1976, especialmente para a antiga Sala São Bernardo da Biblioteca Monteiro Lobato. 
(2) Bellinghausen, D. Minha Mãe Odette. Folha do ABC, 29-07-2019.
(3) Labrada, G. Memória Musical de São Bernardo. 1986. PMSBC
(4) Cf. jornais Folha de São Bernardo e Gazeta de São Bernardo, décadas de 1960 e 70. 
(5) Médici, A Coluna Memória. in: Diário do Grande ABC, 30-09-2018
 

 

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