Iniciamos hoje uma nova série do Projeto que quer divulgar a cultura por meio da ciência, com qualida e segurança, na cidade. Nesta semana, os caminhos que para nós são tão habituais, mas que já foram uma verdadeira muralha e, antes disso, o lar dos povos originários. Vamos seguir nessa viagem, inclusive até o Peru? BIBLIOTECA PÚBLICA - Lugar de Conhecimentos: Os Caminhos do mar

Quem mora na Grande São Paulo sabe bem o significado da expressão “selva de pedra”. Ainda que, em meio a um mar de construções cinzentas, existam alguns oásis verdes, na primeira portunidade milhares de carros seguem em direção ao interior e ao litoral em busca de um respiro. Para quem está no Grande ABC, mais especificamente em São Bernardo do Campo, colocar o pé na areia e molhá-lo no mar leva, em condições normais de tráfego, menos de uma hora, graças à proximidade com as cidades da Baixada Santista e, principalmente, ao complexo rodoviário formado pelas rodovias Anchieta e Imigrantes, o qual faz a ligação entre o planalto e o litoral.

No entanto, muita gente acostumada com essa facilidade de hoje para deslocar-se até a praia não imagina o sacrifício porque os antepassados tiveram de passar para vencer uma imponente muralha
verde: a Serra do Mar.

Muito antes da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos originários utilizam caminhos para acessar outras localidades e fazer um intercâmbio cultural com outras tribos. Dentre esses caminhos pré-coloniais, o mais conhecido é o Caminho do Peabiru, que ligava o Planalto do Piratininga (onde hoje localiza-se a cidade de São Paulo) às cordilheiras peruanas, passando pelo litoral paulista. Na realidade, pesquisas indicam que o Peabiru era uma rede de vários
caminhos, que englobava também o Paraguai, a Bolívia e estados do centro e litoral brasileiros.
Palavra de origem tupi, peabiru quer dizer caminho (pe) do gramado amassado (abiru), segundo alguns estudiosos; para outros, caminho da montanha do sol, em referência, talvez, ao império inca nas montanhas do Peru (pois descobriu-se que o país era denominado biru por seus
nativos).

https://www.youtube.com/watch?v=adQ4jgAh4nw

Considerada um ramal do Caminho do Peabiru, a Trilha dos Tupiniquins (ou também Caminho de Piaçaguera) é a ligação mais antiga entre o litoral e o planalto paulista. Mesmo antes da fundação de São Vicente – a primeira vila (cidade) brasileira – por Martim Afonso de Sousa, em 1532, esse caminho era utilizado pelos índios das tribos no planalto para buscar peixes e outras riquezas marinhas no litoral. Ela adentrava a mata fechada pelo vale do rio Mogi até a região de Paranapiacaba, e daí seguia margeando os rios do atual ABC até encontrar o vale do rio Anhangabaú. A muralha verde da Serra do Mar, com todas as suas dificuldades de transposição dos seus quase 800 metros de altura, era uma grande defesa contra invasões. Martim Afonso de Sousa subiu a primeira vez para o planalto pela Trilha dos Tupiniquins, com o auxílio do explorador português João Ramalho, que já vivia entre os tupiniquins (inclusive, casou-se com Bartira, a filha do cacique Tibiriçá) e, posteriormente, fundaria a primeira vila no planalto, Santo André da Borda do Campo, em 1553. Sob alegação de muitos ataques dos índios tamoios aos portugueses, o governador-geral Mem de Sá mandou fechar a Trilha dos Tupiniquins e ordenou a construção de um novo caminho, que seria chamado de Caminho do Padre José, em referência ao jesuíta José de Anchieta, provável responsável pela abertura desse caminho por volta de 1560.

Margeando o rio Perequê, o Caminho do Padre José se afastava do perigo de ataque de tribos hostis, mas era uma trilha difícil e muito precária, mesmo depois de melhorias realizadas, o que dificultava bastante a circulação e o transporte de materiais entre o planalto e o litoral, uma vez que só pessoas em fila conseguiam passar pelo estreito caminho, e os produtos eram carregados nos ombros de índios escravizados.

Esse período de dificuldades é retratado no famoso romance de Dinah Silveira de Queiroz: A muralha, obra lançada em 1954, homenageando o quarto centenário da cidade de São Paulo. Tendo como pano de fundo o Brasil colonial, o livro mostra a história de mulheres fortes e sonhadoras, e também dos bandeirantes, exploradores que se embrenharam pelo país. Todos tiveram de vencer a muralha, ou seja, a Serra do Mar para atingir seus objetivos.

O romance (que está disponível no acervo das Bibliotecas Públicas) foi adaptado para a televisão cinco vezes, sendo que a última, em forma de minissérie, pode ser encontrada em plataformas digitais.

https://atlas.fgv.br/marcos/administracao-colonial-nos-seculos-xvi-e-xvii/mapas/barreira-da-serra-do-mar

http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/serradomar/2016/12/AF_P_MIOLO_Livro-Serra-do-Mar-2.pdf

http://www.rc.unesp.br/ib/victor_bot/textos/VictorPeabiru2[1]

http://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/45621/49220

http://www.journals.usp.br/posfau/article/download/137331/133053

https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/proa/article/view/2359/1761

https://www.sescsp.org.br/online/artigo/5670_PEABIRU+A+TRILHA+MISTERIOSA

 

 

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