O termo “nativo”, entre outros significados, é aquele que nasceu no lugar, ou originário daquele lugar. Dessa forma, o correto é tratar os povos que chamamos de índios de povos originários ou nativos. Todos sabem porque tais povos têm a identificação de “índios”, uma terminologia que se consolidou e que ao longo do tempo se construiu vários conceitos e preconceitos acerca do índio e sua mitologia. Diante desse quadro, a Prefeitura de São Bernardo do Campo vem realizando a Semana dos Povos Indígenas em São Bernardo do Campo, que tem por objetivo trazer a questão indígena para o contexto urbano, com a intenção de desmistificar, dialogar e mostrar a riqueza nativa para o chamado “jurua kwery”, como dizem os guaranis.


Todas as ações foram realizadas nas dependências do Centro de Referência das Culturas Populares Tradicionais. Sempre contando com mostras de vídeo, exposições temáticas, contações
de histórias, visitas monitoradas às aldeias Guarani, apresentações artísticas com indígenas, além de celebração do “toré”, rodas de conversa e oficinas de pintura corporal e danças sagradas de origem indígena. Acerca do acervo pertencente ao Centro de Referência, destacam-se peças em cerâmica, entre outros materiais que traçam um panorama da produção artesanal indígena, representada por utensílios de 17 etnias brasileiras. Destas, destacamos:

 

Boneca Karajá
Confeccionadas em cerâmica, as bonecas são pintadas com grafismos que representam as formas humanas, a pintura corporal, os adereços, e também a fauna regional das margens do rio Araguaia, nos estados de Goiás e Tocantins, que é onde estão localizadas, há séculos, as principais aldeias do povo Karajá. Nas aldeias, a boneca é dada às meninas, não somente como brinquedo, mas também como ferramenta de educação e de formação da identidade karajá. Em geral, as meninas ganham um conjunto de bonecas, que as mulheres denominam como “família”. Essa família traz representações das diferentes faixas etárias das mulheres da aldeia, identificadas principalmente pelos ornamentos que usam.


Estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Arqueológico Brasileiro (IPHAN) mostram que a confecção das Ritxókó, também conhecidas como Licocó, Titxkòò ou Litjokê, passa por um processo artesanal extremamente trabalhoso, organizado em cinco etapas: extração e preparação do barro, modelagem das figuras, queima e pintura, envolvendo técnicas tradicionais transmitidas de geração em geração. Esculpidas e comercializadas nas cores preta e vermelha somente pelas
mulheres das aldeias, as bonecas são feitas com três matérias-primas básicas:  a argila ou o barro (suù), a cinza e a água. Em geral, são comercializadas nas próprias aldeias ou em lojas de decoração e constituem importante fonte de renda para as comunidades karajá, cujo povo soma uma população de cerca de três mil e duzentas pessoas, com ramificações também no estado de Mato Grosso.


Sobre o Povo Karajá
“Quando habitavam no fundo das águas, o ambiente era frio e restrito, mas eles estavam contentes e eram gordos. Certo dia, um jovem karajá encontrou uma passagem na Ilha do Bananal, saiu e ficou encantado com o espaço para correr, com as praias e riquezas do Rio Araguaia. Ele voltou, reuniu outros jovens e tentou voltar para a superfície, mas a passagem tinha sido fechada por ordem de Koboi, chefe do povo das águas, e estava guardada por uma co¬bra. Então os karajá resolveram se es-palhar pelo Araguaia. Kynyxiwe, o herói mitológico que se encontrava entre eles, ensinou tudo o que os karajá sabem” (Manuel Ferreira Lima Filho, In: Os Filhos do Araguaia).


Os Karajá, que se autodenominam Iny, são cerca de três mil pessoas, que vivem em cerca de 20 aldeias (Funasa, 2011), no médio curso do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal, nos estados de Goiás e Tocantins. Também existem aldeias esparsas do povo karajá nos estados do Mato Grosso e do Pará. Embora tenham uma longa história de convivência com a sociedade nacional, os Karajá conseguiram manter sua língua nativa (karajá), seus enfeites de pena, sua cestaria, suas pescarias, seu artesanato em madeira e seus rituais, como as festas de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky). 

 

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