No primeiro post sobre Neurociência, vimos que o cérebro é o controlador de nosso corpo, nossos pensamentos e de nossas ações. Mas,afinal, quem manda no nosso cérebro: a razão ou a emoção? 

Estudos recentes, como os do neurocientista português António Damásio, explicam que, ao Contrário do que se pensava, nosso “cérebro racional” necessita de emoções, pois estas seriam as responsáveis pela ponderação nas decisões. BIBLIOTECA PÚBLICA - Lugar de Conhecimentos. Post 2 - Razão e emoção

Segundo Damásio, na evolução humana, emoção e razão sempre estiveram relacionadas, sendo que a primeira é responsável pela elaboração e alimentação de nosso banco de dados cerebral de “respostas comportamentais adaptativas”, e a segunda, pela busca nesses arquivos por respostas adequadas em cada situação. Ou seja, usando um exemplo de sobrevivência humana, em uma situação de perigo, o emocional é quem diz que há as opções de fugir, lutar ou não fazer nada, mas é a razão que manda o corpo escolher movimentar-se em fuga, preparar-se para
enfrentar a adversidade ou “congelar”.

Para entender melhor a necessidade de emoções em nossa vida racional, apresentamos um caso emblemático de perda de reação emocional devido à lesão cerebral.

Phineas Gage foi um jovem operário americano que, no século XIX, teve o cérebro perfurado por uma barra de metal devido a um acidente com explosivos. Ele se recuperou logo e não aparentava ter sequelas.

Mas o seu comportamento mudou radicalmente: o trabalhador determinado e colega solidário e gentil tornou-se arrogante e insuportável com todos e inconsequente em tudo. Perdeu emprego, perdeu sua personalidade, e morreu antes de entender como o Gage “bom” havia morrido depois da lesão e dado lugar ao Gage “mau”.

Seu cérebro foi estudado por seu médico John Harlow, e seu caso ainda hoje é usado como evidência científica de mudança de personalidade por lesão no lobo frontal (também responsável pelas emoções); quando atingido, como no caso de Gage, deixa a pessoa indiferente e com
dificuldade de decisão.

https://vimeo.com/111627298 (Filme Gage, sobre o caso de Phineas Gage)

Falando em bom/mau, uma recente revisão de mais de 400 artigos científicos acerca da psicopatia, sob supervisão do médico Jesús Pujol, pesquisador do Hospital Del Mar, em barcelona, concluiu que o cérebro dos psicopatas tem um bloqueio entre áreas de cognição e
raciocínio com a das emoções, causada por uma atrofia dessas áreas.

Crianças submetidas a situações de estresse emocional desenvolvem um mecanismo de defesa contra o sofrimento, cuja consequência é uma falta de controle sobre as emoções (sim, diferente do que se pensa, os psicopatas têm emoções); o cérebro sofre supermaturação precoce em áreas que levam a atrofia e, consequente, falha de comunicação entre o raciocínio e a emoção durante tomada de decisões (embora ambas sejam processadas em suas áreas normalmente). Assim, o cérebro de um
psicopata deixa-o sem escrúpulo e remorso.

Agora, imagine poder ver as emoções na cabeça de uma criança. O filme de animação Divertida Mente mostra as emoções que vivem na mente da jovem Riley, uma menina que aos 11 anos sofre com a mudança de casa e de cidade. Alegria, Tristeza, Nojo, Medo e Raiva vivem na Sede (a
consciência de Riley) e controlam suas ações e memória por meio de um painel. Entre aventuras e desventuras, o que fica evidente é que não existem emoções boas ou ruins, pois todas são importantes, necessárias e precisam sem expressas em situações e intensidade certas.

Para terminar, é necessário deixar claro que emoção e sentimento parecem a mesma coisa, mas são distintas. Sucintamente, emoção é uma reação fisiológica em resposta a evento externo que resulta num comportamento; sentimento é uma elaboração consciente da emoção.

Segundo António Damásio, o que também os distingue é que a primeira é “expressiva e observável pelos outros” e o segundo é “subjetivo e acessível a própria pessoa”. Tristeza é uma emoção e melancolia é um sentimento, por exemplo.

 

Referências:

https://www.youtube.com/watch?v=dR80k2wp6jM (Entrevista de António Damásio)

https://www.scielo.br/pdf/epsic/v2n2/a13v02n2.pdf (A razão das emoções: um ensaio sobre "O erro de Descartes")

http://files.bvs.br/upload/S/0101-8469/2014/v50n2/a4213.pdf (Mr.Phineas Gage e o acidente que deu novo rumo à neurologia)

https://sciam.uol.com.br/estimulacao-cerebral-profunda-realidade-por-tras-da-ficcao/

https://www.scielo.br/pdf/prc/v14n2/7854.pdf (A Cognição Social e o Córtex Cerebral)

http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/2735/1/TES%20SERU1.pdf
(Córtex pré-frontal, funções executivas e comportamento criminal)

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/02/diferencas-no-cortex-cerebral-podem-explicar-comportamento-antissocial.html

https://cdn.publisher.gn1.link/rbp.celg.org.br/pdf/v20n2a04.pdf
(Inside out: um olhar kleiniano sobre o funcionamento mental de Riley
no filme Divertida Mente)

http://pepsic.bvsalud.org/pdf/igt/v13n24/v13n24a02.pdf (Diferenciando sensações, sentimentos e emoções: uma articulação com a abordagem
gestáltica)

https://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n1/24019.pdf (Neurobiologia do transtorno de personalidade anti-social)

https://www.scielo.br/pdf/rpc/v35n2/a03v35n2.pdf (Neurobiologia das emoções)

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/13/ciencia/1544726930_213001.html

 

 

 

 

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