Espaço aberto no tecido urbano dos municípios, entre edificações e terrenos com funções diversas - administrativas, religiosas, comerciais ou residenciais - as praças foram logradouros públicos de grande importância ao longo da história das cidades brasileiras, abrigando eventos comunitários diversos, com características que podiam ser políticas, culturais, religiosas, recreativas ou até mesmo econômicas.  Local público por excelência,  na tradição ocidental,  as praças tem sua origem na antiguidade,  na “ágora” grega e no “fórum” romano (1)  No Brasil, mesmo antes da colonização,  os povos ameríndios já dispunham de um espaço aberto, denominado “ocara” na língua tupi, circundado por moradias, onde aconteciam cerimônias comunitárias diversas. Com os portugueses, chegaram as cidades com suas praças de tradição medieval, freqüentemente ligadas às Igrejas (2) .

Em São Bernardo, a primeira praça surgiu no terreno doado para a construção da Igreja Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem,  por ocasião da criação da primeira paróquia e freguesia da região, na segunda década do século XIX. Inicialmente, apenas um espaço de terra batida defronte ao templo, a praça só foi pavimentada, ajardinada e embelezada cerca de cem anos depois.  Por esta época já existia também o largo da Capela de Santa Filomena, ainda simples terreno sem melhorias (3).

Ponto de referência conhecido por todo o município há mais de 60 anos, a Praça Lauro Gomes foi uma decorrência  do projeto inconcluso de urbanização e modernização da cidade articulado pela Prefeitura Municipal durante a primeira gestão do administrador que lhe empresta o nome (1952-1955).  Ocupando um vasto terreno, na esquina da Rua Marechal Deodoro com a Rua Tenente Sales, a praça foi construída na área antes ocupada por um antigo casarão e seu quintal.  Construído provavelmente na primeira metade século XIX, para ser a sede da fazenda e residência  do Alferes  Francisco Martins Bonilha, uma das pessoas mais poderosas da antiga  Freguesia de São Bernardo, este sobrado foi comprado pelo governo provincial, na década de 1870,  após a morte do fazendeiro. O local se tornou então hospedaria e sede do recém formado  Núcleo Colonial S. Bernardo, abrigando os imigrantes recém chegados à colônia. Na primeira metade do século XX, além da agência dos  correios e da cadeia pública, funcionaram no prédio as salas de aula do  Grupo Escolar  Vila de São Bernardo, primeira escola da região. Ao lado direito da escola, onde hoje está o lado sul da praça  funcionava o campo de futebol  do Palestra S. B. No início da década de 1950,  devido aos riscos de desabamento apresentados pelo velho sobrado, optou-se por sua demolição e reformulação de toda a área.  O acervo do Centro de Memória de São Bernardo do Campo possui uma cópia de uma planta, datada de 24 de fevereiro de 1953,  contendo o projeto original da prefeitura municipal para o espaço onde, logo em seguida, foi construída a Praça Lauro Gomes e o Grupo Escolar Maria Iracema Munhoz. Os planos incluíam a construção do Paço Municipal, da Agência dos Correios e de um Centro de Saúde. De acordo com este planejamento inicial, a praça ficaria reduzida a um pequeno largo,  no centro  da área. Como apenas a escola foi construída, optou-se em ocupar todo o espaço restante com a nova praça, a qual foi oficialmente inaugurada em 20 de agosto de 1954, já com o nome do prefeito que administrava a cidade naquele momento (4) .

A área  com os brinquedos infantis é o  elemento mais antigo da praça, surgido pouco antes de sua  inauguração oficial. A fonte “Princesa Isabel – A Redentora” foi inaugurada na noite de 9 de março de 1957, durante a administração de Aldino Pinotti (1955-1959). Foi saudada na imprensa local como a maior fonte luminosa do Estado, podendo produzir até 144 cores diferentes. Os trabalhos de revestimento e decoração da obra ficaram a cargo da empresa LONPI S.A. Em 16 de dezembro de 1958, foi inaugurado no centro da área, o   busto do  banqueiro Wallace Simonsen,  principal articulador da autonomia do município de São Bernardo do Campo e seu primeiro prefeito, tendo tomado posse no momento de sua instalação, em 1º de janeiro de 1945.

Por constituírem espaços públicos abertos à contemplação e à visitação de todos, estarem situadas em locais privilegiados e muito freqüentados, as praças centrais estão entre os principais símbolos visuais das cidades, objetos  de consideráveis preocupações estéticas por parte da administração pública. Por outro lado, problemas de depredação, criminalidade e degradação física do espaço  se apresentaram periodicamente na história da praça Lauro Gomes, especialmente a partir dos anos 1980,  provocando a indignação da população. A  inauguração da fonte Princesa Isabel , a implementação dos bancos, a arborização, os cuidados regulares com os serviços de jardinagem, reformas e outras intervenções – como a de 1993,  que cercou a área com grades (5) –   foram ações que procuraram  responder às demandas e solucionar problemas, visando o embelezamento do espaço e sua adequação ao conforto e segurança do público.

Além de abrigar o lazer familiar, juvenil e infantil da população, a Praça Lauro Gomes foi também palco de atividades políticas – como o protesto contra a carestia organizado por várias entidades em 1957 (6) ;  econômicas – como a  feira de artesanato que nas décadas de 1970 e 1980 recebia da população a alcunha de  “feira hippie”;  e culturais - como os shows comemorativos do aniversários da cidade de 1968, quando os cantores Roberto Carlos e Moacyr Franco atraíram para o local uma platéia de 30 mil pessoas (7). 

 

      

    Imagem. Praça Lauro Gomes. Década de 1960. Acervo: Centro de Memória de S.B.C

 

Notas

(1) Novais, Raquel Santos de . A dinâmica de uso da Praça Olavo Bilac no contexto da cidade de Belém.  2011.  Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará. p.28,

(2) Pinto, Renata Inês Burlacchini Passos da Silva. A praça na história da cidade : o caso da Praça da Sé - suas faces durante o século XX (1933/1999). Dissertação( Mestrado)- Universidade Federal da Bahia.  p.82 e 83

(3) Cf. Jacobine, R. S. A antiga Matriz. 2020. Acessível em   https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/cultura/a-antiga-igreja-matriz

(4) A  Lei Municipal n. 305, de 30/07/1954, denominou  “Lauro Gomes”  a nova praça.

(5) Cf. Jornal “Diário do Grande A. B. C”, 23/12/1993.  

(6) Cf.  Jornal “ O Estado de São Paulo”, 15 de setembro de 1957.  p.35.

(7) Cf. Jornal “ A Vanguarda”, 25/08/1968. p.7.

 

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