Na região da cidade de São Paulo, desde os tempos coloniais se registra o combate das autoridades constituídas e da comunidade em geral às doenças e epidemias. Durante o século XVIII, a varíola – conhecida como bexiga, devido às bolhas características que surgiam pelo corpo dos doentes – se alastrou assustadoramente pelo local em diversas ocasiões, ceifando centenas de vidas. O isolamento obrigatório dos doentes e a quarentena foram os meios empregados pela administração municipal para a defesa contra a doença. Na capital, os doentes eram isolados em lazaretos. Uma vez que se acreditava que os escravos trazidos de longe eram o meio de entrada da doença na cidade, determinou-se várias vezes, por precaução, a inspeção e quarentena - em local relativamente distante do centro urbano - dos novos cativos que chegavam ao município, incluindo os que vinham de Santos, atravessando o bairro rural de São Bernardo, através da Estrada do Mar (1). A vacina contra varíola começou a ser usada na cidade de São Paulo no início do século XIX, e, em 1829, registra-se o envio, por parte do presidente da província, José Carlos Pereira de Almeida Torres, do físico-mor interino à Freguesia de São Bernardo, para “serem vacinados os moradores” e assim “fiquem livres do devastador contágio das bexigas naturais” (2). Apesar das vacinas, a varíola continuou sendo a doença mais perigosa na região e, por volta da metade do século XIX, havia até mesmo um cemitério, nas proximidades do local onde hoje funciona o Hospital Municipal de Santo André, que ficara conhecido como “Cemitério dos Bexiguentos” (3). Ainda durante o século XIX, no primeiro trimestre de 1878, a Freguesia de S. Bernardo sofreu uma séria epidemia de febre tifoide, combatida sob a liderança do então professor e estudante de medicina residente no bairro da estação (atual S. André), José Luiz Fláquer, o qual receberia homenagens oficiais por parte da presidência da província, em virtude dos serviços prestados (4). Em 1918, o Dr. Fláquer, que foi o primeiro e único médico da região por muitos anos, se destacaria novamente no combate da terrível epidemia conhecida como “gripe espanhola”, cujas marcas ainda persistem na memória familiar de antigos moradores de S. Bernardo. À esta epidemia se liga um registro do recurso popular à fé como meio de combate das doenças. Segundo as anotações do pároco da antiga Igreja Matriz, apenas 4 ou 5 pessoas teriam sido vitimadas pela gripe espanhola em São Bernardo porque a população recorreu a São Roque, adquirindo uma nova imagem do santo e colocando-a no templo (5). Em São Bernardo, como também no restante do pais, de maneira geral, pode-se dizer que os progressos da medicina, das condições sanitárias e de outras ações sociais – estatais e privadas – orientadas para a saúde pública, realizados ao longo do século XX, diminuíram a incidência de epidemias e de doenças diversas, abaixando taxas de mortalidade – sobretudo infantil – e aumentando a expectativa de vida de população. No município de São Bernardo do Campo, representam marcos destes progressos o surgimento dos primeiros serviços públicos municipais de saúde (década de 40), dos primeiros hospitais – “São Bernardo” (1949) e “Anchieta” (década de 1950) - e postos de puericultura (décadas de 50 e 60). Em 1971, quando a cidade já possuía uma das maiores arrecadações de impostos do estado, existiam em S. Bernardo: 5 hospitais, 17 clínicas especializadas, 2 prontos-socorros municipais, 1 posto de saúde, 17 postos municipais de puericultura e 64 médicos, além de 149 auxiliares de enfermagem e atendentes (6). Neste mesmo ano, a taxa de mortalidade registrada no município foi de 8 óbitos para cada 1000 habitantes, evidenciado notável redução em relação aos números dos primeiros anos do século XX, quando a mortalidade na região oscilava em torno de 22 ob./1000 hab (7). Imagens: Esq.-> Primeira ambulância do município, adquirida por intermédio de Tereza Delta. 1950. Dir.-> Construção do Hospital Anchieta, na Rua Silva Jardim. Início da década de 50.


Notas:
1 - Cf. Ribeiro, Maria Alice Rosa. A cidade de São Paulo e a saúde pública (1554 -1954). In: História da Cidade de São Paulo. v. 2 - Org: Paula Porta. São Paulo, Paz e Terra, 2004. p. 314- 316
2 - Cf. Jornal Farol Paulistano, 25 de fevereiro de 1929. p.2.
3 - Cf. Wanderley dos Santos. Antecedentes Históricos do ABC Paulista: 1550-1992. Org: Serviço de Documentação da História Local (atual Centro de Memória de São Bernardo do Campo). PMSBC, 1992. p.154.
4 - Cf. Jornal “A Província de São Paulo”, 28 de março de 1878.
5 - Cf. Uma caminhada missionária – Comemorando o centenário dos missionários de S. Carlos – Escalabrinianos - na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. São Bernardo do Campo – 1904-2004. p. 34-35. Segundo esta mesma publicação, os óbitos nas paróquias vizinhas de Santo André, Santo Amaro e Ribeirão Pires teriam ultrapassado o número de 50.
6 – Cf. Educação, um desafio que foi aceito - São Bernardo do Campo, 1953-1972. Edição comemorativa do 419º Aniversário da cidade. PMSB, 1972. p. 81.
7 - Cf. Anuários Estatísticos do Estado de São Paulo. 1900-1905.


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