Arthur Rudge da Silva Ramos, nascido no dia 3 de abril de 1875, em São Paulo, era oriundo de uma família de ascendência inglesa por linhagem materna. Seu avô, John Rudge, havia migrado para o Brasil em 1808, se tornando um dos introdutores da cultura do chá no país, plantação feita a princípio num sítio que adquiriu na região do Morumbi, em São Paulo, cuja capela atualmente é tombada pelo conselho de patrimônio histórico paulistano. Uma das filhas de John, Maria Amélia Rudge, casou-se em 1860 com o bacharel em direito Ernesto Mariano da Silva Ramos, que posteriormente seria presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Arthur foi o nono dos doze filhos que este casal teve. Tal como o pai, cursou a prestigiada faculdade de direito do Largo São Francisco , tendo se formado em 1899. Casou -se com a italiana Orlandina Caloggia, com quem, em 1904,teve uma única filha, Lavínia Rudge Ramos (primeira dama de São Bernardo durante os mandatos de Lauro Gomes, entre 1951 e 1954 e 1960 e 1963)

Em 1901, Arthur já exercia a função de subdelegado de polícia no bairro do Bom Retiro em São Paulo e dois anos depois já era delegado na Consolação (1) . Por volta de 1909, se tornou também responsável pelo serviço de fiscalização de veículos da Capital (2). Ficou conhecido por ser um delegado atuante e severo, tendo recebido elogios e críticas na imprensa paulista ao longo dos anos de serviço. Em 1908, por exemplo, o jornal “Vida Paulista” dizia: "devemos ao Dr. Rudge a limpa dos terríveis ladrões que infestavam essa Capital, notadamente os célebres assaltantes da Avenida Paulista", sendo todos eles " presos e processados" (3). Por outro lado, em 1914, a Revista “O Pirralho” criticava a ação truculenta da polícia, "sob as ordens do Dr. Rudge Ramos", contra a população que acompanhava a visita de Rui Barbosa a São Paulo, logo após a campanha presidencial daquele ano (4). Já em 1927, o Jornal “O Sacy” relatava uma greve dos "chauffeurs de praça " (taxistas) que protestavam contra o que seriam imposições absurdas "partidas ora da prefeitura, ora da delegacia do Dr. Rudge Ramos."(5)

Mas o nome do delegado ficaria mais marcado na história paulista, sobretudo em São Bernardo, pela reforma que conduziu na Estrada do Vergueiro (atual Rodovia Caminho do Mar), que impactou a cidade do ABC urbanística e economicamente ao possibilitar a passagem de automóveis na rota, o que aumentou o movimento local, impulsionando nas suas margens tanto o comércio quanto a especulação imobiliária, com o surgimento de loteamentos urbanos nos arredores. Rudge Ramos tomou a iniciativa de reformá-la após ter passado por um constrangimento no ano de 1908 , em Santos, diante de visitantes estrangeiros que queriam subir a serra de automóvel pela estrada do Vergueiro para apreciar a paisagem (ao invés de usar a linha ferroviária, como então era usual). Ele teve de persuadi-los a não fazer a viagem, pois a rota estava em péssimo estado e era intransitável.“Como brasileiro me senti extremamente vexado e como hóspede que fui – muito bem acolhido por argentinos e uruguaios- pareceu-me que cometi uma ingratidão”, lembrou Rudge no relatório que fez da reforma na estrada (6). A reforma iniciou-se em setembro de 1913 e terminou no início de 1920, tendo Rudge comandado a execução do trecho da estrada entre São Paulo e a Serra do Mar.

Ao longo do trajeto foram realizados diversos serviços de terraplanagem, regularização de leito e construção de bueiros. Nos vastos atoleiros situados no trecho mais intransitável, entre o Riacho Grande e a Serra, foram feitos aterros com pedra, saibro e areia. Neste setor a estrada também foi macadamizada em alguns pontos e na altura do morro do Botujuru, além da macadamização em um lugar, outro trecho foi calçado com paralelepípedos. Em algumas partes, situadas em São Paulo e em São Bernardo, Rudge optou por reutilizar o trajeto de uma variante mais antiga do Caminho do Mar, que estava em desuso desde a construção da estrada do Vergueiro em 1963 (7).

Os custos da obra foram pagos tanto com recursos públicos, vindos da prefeitura de S. Paulo e do governo estadual, como de particulares, oriundos de proprietários de terrenos no trajeto, como era o caso do próprio Rudge, que adquirira no período vastas terras na altura do bairro Taboão, em área onde depois se instalaria a Willys Overland e a Ford. Nesses terrenos, ele estabeleceria uma chácara e construiria uma grande represa, hoje aterrada. 

Os proprietários que haviam contribuído para construção foram incorporados em 1920 à Sociedade Anônima Caminho do Mar (8) , que tinha os direitos administrativos, incluindo o de cobrar pedágio sobre a estrada até a altura do Rio Grande. Três anos depois a sociedade seria adquirida pelo governo do estado, que passou então a ter controle total da rodovia e extinguiu o pedágio.

Arthur continuou na função de delegado em São Paulo até dezembro de 1930, quando foi exonerado pela ditadura varguista instaurada naquele ano (9). Sete meses depois, porém, foi reintegrado ao cargo, aposentando-se logo em seguida (10). Faleceu em 16 de novembro de 1941. Para homenageá-lo, no início de 1947, o prefeito Wallace Simonsen mudou oficialmente o secular nome do Bairros dos Meninos para Rudge Ramos, onde nas adjacências o delegado tivera sua chácara (11).

 

Acima, Arthur Rudge Ramos em imagem publicada em 1908; abaixo, sua chácara no Taboão em 1926. Essa área, situada próximo ao Km 14 da Anchieta, seria depois adquirida pela Willys Overland (que em 1967 foi comprada pela Ford).

 

Notas:

(1) O Estado de São Paulo, 13-07-1901

(2) idem, 09-11-1909

(3) Semanário Vida Paulista, 1908

(4) O Pirralho , 15-03-1914

(5) Revista O Sacy, 04-02-1927

(6) Ramos, A. R. Relatório sobre os Trabalhos Feitos na Estrada do Vergueiro -1913-1920. PMSBC, 1967.

(7) Idem

(8) O Combate, 22-04-1920

(9) Diário Oficial do Estado de São Paulo, 13-12-1930

(10) Diário Oficial do Estado de São Paulo 16-07-1931

(11) Decreto 17, 15-02-1947

 

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