O italiano Antonio Corazza, natural da comuna de Santa Maria di Sala(1), província de Veneza,  região do Vêneto, fixou residência na sede urbana do Núcleo Colonial São Bernardo, em 1886, aos 28 anos de idade (2).

Por volta de 1890, Antonio inaugurou, junto com a esposa, Giuseppina Trabacchini, um armazém de secos e molhados na atual esquina da Rua Marechal Deodoro com a Rua Teresa Cristina, o qual dirigiu até sua morte, em 1911 (3). Ainda neste mesmo ano Corazza adquiriu um lote rural na Linha colonial Rio Grande, onde cultivou milho e abóboras (4).

Um documento armazenado no Arquivo do Estado de São Paulo, datado de 17 de setembro de 1891, mostra que Antonio Corazza chegou a solicitar ao governo brasileiro o pagamento de passagens para a vinda de seus pais ao Brasil, uma vez que ele não tinha condições financeiras de custear a viagem (Inocente e Maria Corazza, estavam com 63 e 62 anos respectivamente e residiam na comuna de Salzano, nas proximidades de Veneza) (5).

Em 1897, um recenseamento apontava que  Antonio e Giuseppina viviam com seus cinco filhos brasileiros -   Maria, Luiza, Manoel, João e Emília - no lote n. 109 da sede urbana do núcleo colonial, localizado no topo da Rua Dr. Fláquer Todos  tinham então menos de sete anos de idade (6). Antes de 1908, a prole do casal ainda aumentaria com o  nascimento de   Gemma, Inocente  e José Antônio.   

Maria faleceu em 1903, aos doze anos de idade, Emília se casou com Esterlindo Gerbeli ,carroceiro e marceneiro..Gemma casou-se com Thiago Censon, com quem teve dois filhos. Inocente  foi jogador do Esporte Clube São Bernardo, marceneiro, e, posteriormente. proprietário de uma Tapeçaria. José  Antônio estudou  desenho  e entalhação no Liceu de Artes e Ofícios, na capital paulista. Se formou também  técnico em tecelagem e trabalhou nesta mesma área profissional. Casou-se com Muciana de Lima e teve duas filhas  (7)

Com a morte de Antonio, Giuseppina  assumiu a direção do armazém e inaugurou um moinho de fubá hidráulico  na região, o qual  funcionava com águas desviadas do Rio dos Couros. Posteriormente Manoel assumiu a propriedade do Moinho ( 8 ).

Por volta de 1920, Luiza se casou com o marceneiro Vicente Colombo, filho do italiano Angelo Colombo, dono de uma das primeiras fábricas de móveis da cidade, localizada nas proximidades da esquina da atual Rua João Pessoa com a Rua Carlos Del Prete. Manoel se casou com Maria Angelina Sabatini, filha do comerciante Samuel Sabatini, também estabelecido na região do atual Paço Municipal. Em 1920 foi instalada  a célebre fábrica de móveis dos Irmãos Corazza, inicialmente uma sociedade de Vicente Colombo e os irmãos Manoel e João Corazza (9). Começando com cerca  de 12 operários e  chegando a empregar mais de 130 funcionários em 1937 (10), esta indústria foi a fábrica de móveis que mais tempo perdurou no mesmo local da cidade, resistindo até por volta do ano 2000. Localizava-se na Rua Marechal Deodoro, nas proximidades da esquina com a Rua Djalma Dutra. Na segunda metade da década de 20, quando vários filhos de Manoel já eram nascidos, sua esposa faleceu. Manoel então se casou com Justina Maria Sabatini, irmã de sua primeira esposa. A empresa prosperava e em 1933 abriu também uma tecelagem junto à fábrica de móveis, que então era uma das maiores da cidade. Manoel e João também se destacaram na vida social, esportiva e política de São Bernardo do Campo, tendo pertencido ao grupo que trabalhou pela emancipação do município, em 1944.  Dirigiram a empresa até por volta de 1960. Manoel Corazza faleceu em 1961 e João em 1971. Luiza, que  se notabilizou por sua devoção à Santa Filomena - cuja capela recebeu seus cuidados durante várias décadas – faleceu em 1985 . 

Durante a década de 1960 a fábrica passou a ser administrada pelos filhos de Manoel, em especial por Élio Corazza e Nelson Corazza, o qual possuiu também olaria na cidade entre a segunda metade dos anos 40 e os anos 60 (11) . Conrado Bruno Corazza, além de sócio da famosa empresa de seus irmãos, foi também Secretário de Serviços Urbanos da prefeitura e vereador no município. Ao longo dos anos,  outros membros da família trabalharam na fábrica de móveis e na tecelagem, em diversas funções. Foi o caso de Edmundo Censon (filho de Gemma), de José Antônio,  de Inocente, entre  outros  (12). Nas décadas mais recentes, parte da família tem mantido uma empresa com atuação muito destacada na área da mediação imobiliária. 

 


Acima - > Fachada da Fábrica de Móveis Irmãos Corazza, nas proximidades da esquina da Rua Djalma Dutra com a Rua Marechal Deodoro. Década de 1920. Abaixo->  Família Corazza. 1914 (c). Da esq. p. dir, atrás: Luiz, Vicente Colombo, João, Manoel, Gemma e Tereza; Na frente: Emília, Giuseppina, Inocente e José Antonio. Acervo:Família Corazza. Publicada em : Gomes, Fábio.  Origem das Famílias de São Bernardo do Campo – Famílias Tradicionais e Ilustres. Volume 2. São Paulo, EDICON, 2005. p. 129-134.

 

Notas


(1) - Cf. Orsi, Itamir e PAIVA, Eddy C. Famílias Ilustres e Tradicionais de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, Edições Memória Nacional, 1994. v. 2. p. 63.

(2) - Cf. Livro de Matrícula dos Colonos – Núcleo Colonial de São Bernardo/Sede. Inspetoria Geral de Terras, Colonização, Imigração do Estado de São Paulo -1877/1892. Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo           

(3) - Cf.  Intendência de São Bernardo, Impostos Municipais 1890-1892. Acervo: Museu de Santo André Otaviano Gaiarsa ; Cf. Livros dos registros dos impostos sobre indústrias e profissões do Município de São Bernardo. 1893-1899; Livros dos registros dos impostos sobre indústrias e profissões do Município de São Bernardo. 1911-1923

(4) - Arquivo do Estado de São Paulo. Inspetoria Especial de Terras e Colonização de São Paulo. Maço 4. Requirimento n. 107. 29/5/1890;  Arquivo do Estado de São Paulo. . Livro Auxiliar de Recenseamento - N. C. SB - 1900 - E18030.

(5) - Arquivo do Estado de São Paulo. Delegacia das Terras e Colonização de São Paulo. Maço 5. Requirimento n. 84. 17/9/1891;                       

(6) - Cf. Livro de Matrícula dos Colonos – Núcleo Colonial de São Bernardo/Sede. Idem.

(7) - Cf. Gomes, Fábio. Origem das Famílias de São Bernardo do Campo – Famílias Tradicionais e Ilustres. Volume 2. São Paulo, EDICON, 2005. p. 120; 128-133. 

(8) - Cf.  Câmara Municipal de São Bernardo. Indústrias e Profissões 1911-1923. ps. 24,33, 40, 47, 53 e 72 ; Corazza, Nelson e Conrado Bruno. Depoimento. 25/8/2005. Banco de história Oral. 

(9) - Cf.  Capri, Roberto.  O Estado de São Paulo na Comemoração do Centenário 1822-1922.  São Paulo: Est. Gráphico Pocai & Cia, 1922.  p.218 e p.227. 

(10) - Cf. Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo.Diretoria de Estatística, Indústria e Comércio. Seção das Indústrias. Estatística Industrial do Estado de São Paulo – 1937. Sâo Paulo: Freire e Cia, 1939. p.86.

(11) - Cf. Corazza, Nelson e Conrado Bruno. Depoimento. 25/8/2005. Banco de história Oral. 

(12) - Cf. Gomes, Fábio. Origem das Famílias de São Bernardo do Campo – Famílias Tradicionais e Ilustres. Volume 2. São Paulo, EDICON, 2005. p. 129-134.

 

 

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