Já vão longe os anos em que,  num grande terreno  na Rua Professor Rubião Meira, Vila Washington (Planalto), quase na beirada do km 18,5 da Via Anchieta, se encontrava a outrora famosa Chácara do Tio Fuzarca, memorável espaço que propiciou lazer às famílias da cidade e de fora dela entre as décadas de 1950 e 1970.
 
O local, também conhecido como Chácara Santo Antônio, funcionava como  uma espécie de mini-jardim zoológico, abrigando macacos, onça, leoa, tamanduás, cachorros, potros e cerca de 1.300 aves das mais diversas espécies. Entre elas destacavam-se pássaros raros brasileiros como uirapuru-preto e tangará  e espécies do exterior, como periquitos-reais da Nova Guiné, gralha-topete das Filipinas e rouxinóis da China (1). Além disso, lá também havia brinquedos de playground, área para lanches, mirante e um pequeno museu de taxidermia.
 
Tudo foi uma criação do mineiro Antônio Panzi, o Tio Fuzarca, que adquiriu em 1949  aquelas terras, antes  pertencentes a Dante Nese e à família Ghilardi, proprietária do loteamento da Vila Washington (2). Nascido em 1908, Panzi, até comprar a chácara, havia desempenhado uma série de atividades ao longo de sua vida: foi locutor de porta de loja em Buenos Aires (3), cantor de tango em São Paulo, dono de circo e proprietário de uma pequena empresa de propaganda. Nela,  promoveu a divulgação de filmes famosos como Frankenstein (1931), A Múmia (1932) e O Último Varão Sobre a Terra (1933). Criava ações de marketing que envolviam atores fantasiados como personagens das películas, posicionados em locais como a Praça da Sé, em São Paulo, e a Cinelândia, no Rio. Em uma dessas ações, diante do tumulto causado, um jornal teria dado como manchete no dia seguinte: “Fuzarca na Cinelândia” — daí surgindo, segundo Panzi, o apelido por ele usado (4).
 
Após comprar o terreno em São Bernardo, ele aos poucos montou sua chácara. Plantou seringueiras, eucaliptos e outras folhagens, e foi  adquirindo novos animais, ampliando a fauna do local. Com entradas grátis para as crianças e com adultos pagando no máximo uma taxa simbólica, o público foi crescendo e o espaço ganhando mais notoriedade, atraindo cada vez mais famílias ou até mesmo excursões escolares, inclusive de cidades vizinhas. Jornais como A Tribuna, de Santos, e O Estado de São Paulo fizeram, nos anos 60 e 70, reportagens sobre ela. Na TV, Panzi fazia aparições no programa infantil Zás-Trás (TV Paulista e Globo), divulgando o local. Além disso, alguns dos animais de seu zoo foram utilizados em filmes, como é o caso da onça “Java”, que participou de produções como A Tristeza do Jeca (1961), de Mazzaropi, e Tarzan e o Grande Rio (1967) (5).
 
As despesas dos altos custos de manutenção da chácara eram cobertas pela venda de algumas espécies de pássaros (periquitos australianos, calafates e canários) e de cães de guarda que ele criava no local  (6), e também pela renda de uma lotérica que Fuzarca possuía na Rua Brás Cubas, no centro de Santos (7).
 
Panzi ficou com a chácara até meados dos anos 70, quando a arrendou e foi morar na Baixada Santista (8). Em 1975, nela se instalou a Churrascaria Mirante, que manteve em exposição parte dos animais do zoo. Oito anos depois, a churrascaria deu lugar ao prédio da Gráfica Bandeirante, e, com isso,  a chácara teve seu fim definitivo (9). Panzi faleceu em Santos, em julho de 1986 (10).
 
 
 
Nas imagens: acima, a Chácara vista a partir do km 18,5 da Via Anchieta, em 1973; abaixo, tomada interna dela, em 1972.
 
 
 
Notas:
 
(1) - O Estado de São Paulo, 04-02-1968, 15-08-1969
(2) - Planta da Vila Washington - Arquivo da Seção de Cartografia  da PMSBC
(3) - Folha de São Bernardo, 31-03-1979
(4) - A Tribuna, 28-09-1969
(5) - idem, 13-05-1974
(6) - idem,   25-03-1973; O Estado de São Paulo, 15-08-1969
(7) - A Tribuna, 20-09-1969
(8) - Médici, A.  São Bernardo, seus Bairros, Sua Gente, 1981. PMSBC.
(9) - Diário Oficial do Estado de São Paulo, 28-09-1983
(10) - Cidade de Santos, 19-07-1986.
 
 
 
 

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