Situada em um ponto próximo da confluência da Av. Dr. Rudge Ramos com a Estrada das  Lágrimas,  ambas remanescentes de velhas rotas de ligação entre São Paulo e litoral , a Rua da Represa foi uma das primeiras vias urbanas a surgir no Bairro dos Meninos, antigo nome do Rudge Ramos. No final do séc. XIX, a região onde ela se  encontra, próxima de um antigo pouso de tropas de mulas, já possuía um certo número de casas (1), entre elas a residência do carreiro Joaquim Antônio de Oliveira, dono do sítio onde a rua seria aberta no início do século seguinte. Joaquim e  sua família  provavelmente já ocupavam aquela área há certo tempo, como rendeiros de um quinhão da fazenda de São Bernardo, dos monges beneditinos. Quando a fazenda foi vendida ao governo imperial, que  a dividiu  em lotes para colonos, alguns antigos arrendatários ou moradores do local, como Joaquim,  acabariam oficializando suas posses ao adquirirem lotes. José receberia em 1891 o título de propriedade do lote rural 15 da linha Rio dos Meninos, aberta em 1886 (2).
 
A partir do final da década de 1910, aquelas áreas se valorizaram com a  reforma e revitalização do Caminho do Mar, tornado apto à passagem de automóveis, que estavam sendo introduzidos no país. O  próprio idealizador e executor do projeto, o delegado Arthur Rudge Ramos, compraria uma chácara de veraneio por perto, em terreno onde  depois se instalaria a Ford, adjacente ao sítio de Oliveira. A área se caracterizaria por uma grande represa  formada com águas do Rio dos Couros.
 
Pouco tempo depois da abertura desta chácara, as terras que foram de Oliveira foram loteadas e a Rua da Represa,  em seguida, aberta, possivelmente a partir de uma passagem já existente entre o reservatório de água e a Estrada do Mar. O loteamento foi batizado  de Vila Jahu e tinha como única via a Rua da Represa.  A rua posteriormente chegaria a receber, por períodos curtos, outras denominações, tendo sido batizada oficialmente, em 1956,  como Rua João Meneghel (membro de uma das famílias mais antigas do local) e,  em  1972,  como Rua Leoni Angeli (3). Porém, em ambos os casos, a força tradicional do nome   “Rua da Represa” acabou logo impondo  a reversão das denominações alternativas (4) .
 
Uma das primeiras construções da rua foi o  prédio na esquina com a Estrada do Mar, pertencente a João Chiavaliero, que por volta de 1929 instalou ali uma padaria, a primeira do bairro (e existente até hoje).  Foi denominada  "Flor do Mar” , mesmo nome  de um clube de futebol então existente em São Caetano. Chiavaliero, por sinal, teria um grande envolvimento com o futebol local ao ter sido fundador e  presidente do Meninos Futebol Clube, fundado em 1935, cuja sede social original teria funcionado no prédio de sua padaria.  Junto a esta,  Chiavaliero também  administraria a partir de 1932 uma bomba de gasolina Texaco, instalada um ano antes pela vizinha Celeste Vesco, para aproveitar a crescente passagem dos veículos pela estrada (5).
 
Segundo levantamento da evolução urbana do bairro feito pelo prof. José Vicente Salvador, a  rua já estava significativamente ocupada por volta de 1940, com construções inclusive além da área onde passaria a Via Anchieta, se  aproximando da represa de Rudge (6).  Imagens aerofotogramétricas tomadas em 1957 mostram a rua com cerca de 45 edificações e ainda alguns terrenos baldios. Nessa época, porém a rua ainda não havia sido pavimentada, ficando intransitável em época de  chuvas fortes (7).
 
No ano seguinte, a via, que já tinha ao longo dos anos 40 sido dividida em duas, devido a passagem da Via Anchieta no meio do seu percurso, sofreu novo impacto: todas as casas que estavam entre a Anchieta e a antiga represa de Rudge, foram demolidas, devido à venda da área  onde não muito tempo  depois se instalaria a Indústria Bombril, que por ali permaneceria até os dias atuais.
 
Depois das demolições, a parte restante foi bastante ocupada até 1970, embora sobrassem então espaços livres na esquina com a Av. Dr. Rudge Ramos (em frente à padaria) e  na alturas dos números 75 (onde está hoje o  conjunto de edifícios “Condomínio Nossa Senhora do Monte Carmelo”) e n. 289 (atualmente um lava-rápido).  Nessa época havia instalada uma pequena indústria vizinha a esses terrenos, a Companhia Brasileira de Cerâmica, numa área também ocupada hoje por prédios (8). A verticalização transformou bastante o local a partir dos anos 90, embora  muitas das construções mais antigas ainda sobrevivam, especialmente no trecho final da via.
 
 
 
 
Nas imagens,  o prédio da padaria na esquina da Rua da Pedrosa com a Av. Doutor Rudge Ramos, em 1929 e em 1989.
 
 
Notas: 
 
1.Medici, A. São Bernardo, seus bairros, sua gente. 1981. PMSBC.
 
2. Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo 1892-8. Arquivo do Estado de São Paulo.
 
3. lei PMSBC 503/1956; Decreto PMSBC 2940/1972
 
4. Leis 753/59 e 2056/73.
 
5. Solicitações a Inspetoria da Prefeitura do Município de São Bernardo, 25-11-1931 e 12-08-1932
 
6. Médici. ibidem.
 
7.  Jornal A Vanguarda. 20-12-1958
 
8. Cadastro Industrial do Estado de São Paulo, 1968.GESP, 1978
 

 

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