Concebida em janeiro de 1833, a Rua Santo Filomena foi uma das cinco ruas do primeiro arruamento de São Bernardo (e do ABC paulista), realizado em cumprimento a uma determinação da Câmara de São Paulo, município o qual São Bernardo então integrava (1). O arruador Manoel da Silva Rodrigues, carpinteiro de profissão e morador do Rio Grande (2), foi também responsável pelo medição, demarcação e abertura da área, estando na ocasião presentes o fazendeiro Francisco Martins Bonilha e o fiscal Manoel Rodrigues de Barros, este dono original das terras onde fazia-se aquele pioneiro arruamento.

Inicialmente a via fora batizada de “Rua da Constituição”, numa homenagem à primeira constituição brasileira, nome que seria esquecido algum tempo depois. O trajeto da via também era bem diferente do atual: conforme Bonilha deixou registrado em documento (3), ela iniciava-se junto ao antigo Córrego da Laranjeiras, depois chamado de “Santa Terezinha” (hoje canalizado sob a Av. Prestes Maia), e, com 277 braças de comprimento, ia aproximadamente até onde se encontra hoje o Colégio São José. Isso implica que o percurso dela, englobava também o da Rua São Bernardo, atravessando o Largo da Matriz.

Nos primeiros anos após sua criação, a rua teve desenvolvimento quase nulo, chegando a ser até mesmo fechada. Em 1846, o tropeiro João Alves Viana, que então solicitava à Câmara Municipal uma data de terras ali, relatava que Miguel Deiros, dono de um terreno na rua, havia colocado uma cerca no local, deixando porém uma porteira para passagem pública, para que a vizinhança pudesse acessar o córrego, que lhes servia de agoada. Na ocasião, a cerca estava sendo substituída por um muro construído pelo proprietário sucessor de Deiros, o tenente Antônio José Osório. Em resposta a Viana, a Câmara mandou arruar e demarcar novamente a rua, decisão que seria reiterada em 1851 por um tribunal imperial, que inclusive obrigou Osório a ceder parte de suas terras para tal fim. A única construção conhecida que havia na rua nesse tempo era a residência do casal Anna Romana e Carlos Mariano de Barros, este sobrinho de Manoel Rodrigues, que se situava na esquina com o Largo da Matriz.

A atual denominação da via só ocorreria depois de 1881, ano em se deu a construção da Capela Santa Filomena, em um terreno doado pela devota Maria das Dores de Jesus. Aparentemente logo em seguida foi aberto o trecho da rua entre a nova ermida e o córrego. Já em 1891, uma escritura de venda de terreno citava a via com a denominação de “rua nova de Santa Philomena” (4).

Mesmo estendida, a Santa Filomena viraria o século XX ainda pouco habitada. Em 1909 , já separada da Rua São Bernardo, havia nela apenas sete edificações, contando com as casas da esquina da Rio Branco, então pertencentes ao carreiro João Patrício e a família de Antônio Serafim Bueno. Em seu lado mais novo, morava o carpinteiro Rodolfo Zoboli (5), cujo filho José fundaria em 1924 a fábrica de móveis Santa Clara (depois José Zoboli SA) (6), que funcionou até fins da década de 70 onde atualmente se encontra o Supermercado Pão de Açúcar.

Somente depois de 1915 a ocupação local começaria a crescer, alcançando em 1935, 21 construções. Entre seus moradores, tanto indivíduos de famílias de imigrantes estrangeiros relativamente recém chegadas (Paschoal Paggi, Angelo Cussiol, Anna Righetti, Gustavo Stahlschmidt), como de famílias brasileiras antigas (Floriano Manoel Pedroso, Alfredo da Silva Bastos, Raul Gonçalves Ferreira, João de Lima e José Alves) (7).

Posteriormente, acompanhando o ritmo de crescimento ocorrido em toda a cidade, o povoamento aceleraria-se: em meados dos anos 50, pouco tempo depois de ser pavimentada com paralelepípedos, a rua estava praticamente toda ocupada, havendo nela 56 construções (8). Destas, 5 eram estabelecimentos comerciais: a sapataria de Wilson Verdini, no atual n.550; o salão de beleza de Nancy Vertamatti (n. 896); o escritório da Companhia Telefônica (perto da esquina com a Av. Imperador Pedro II) e as oficinas de José Fanani (em área hoje cortada pela Av. Prestes Maia) e de Alcides Franco (atual n.906). Havia também algumas fábricas de móveis: além da supracitada José Zóboli SA, existiam também a Basso & Berardi (n. 568), a Miele Fernandes (580) e a Santa Tereza, da família Stangorlini (atual 999), que foi parcialmente destruída por um incêndio em agosto de 1982 (9) .

Os estabelecimentos comerciais cresceriam nas décadas seguintes até ocuparem praticamente toda a rua na virada do século XX. Isso incluiu áreas onde antes estavam indústrias e mesmo os setores abertos a partir de meados da década de 1980, com o prolongamento da via entre a esquina com a Av. Imperador Pedro II até a Rua Leonardo Locoselli, que teve o objetivo de facilitar o intenso fluxo de veículos na região central da cidade.
 

Na imagem, a Rua Santa Filomena (à esquerda, em sentido mais vertical, em direção ao prédio do Paço Municipal), em 1969 .A imagem foi publicada na capa da Revista Expressão, de setembro daquele ano. Mais para o centro da foto vemos a Av. Prestes Maia, que acabava de ser construída. Um pouco mais acima está a Fábrica de Móveis José Zoboli, onde hoje se encontra o Supermercado Pão de Açúcar

 

 

Notas:
(1) dos Santos, W. Antecedentes Históricos do ABC Paulista.1992
(2) Lista de Qualificação de eleitores, 1847. Arquivo Washington Luiz.
(3) “Termo de demarcação do rocio da Freguesia de São Bernardo , 1833” apud Dos Santos, W. idem.
(4) Escritura de Compra e Venda entre Tenente Francisco de Oliveira Salles e Ítalo Setti. 24-03-1891. 1o. Tabelião de Notas de São Bernardo.
(5) Livro de Imposto de Viação -PMSB, 1909. Acervo do Museu de Santo André
(6) Caldeira, João Netto. Álbum Memória de São Bernardo, 1937.
(7) Livro de Imposto de Viação - PMSB, 1915-1935. Acervo do Museu de Santo André
(8) Reemplacamentos da Rua Santa Filomena.Diretoria de Obras - PMSBC.
(9) Diário do Grande ABC, 10-08-1982

 

 

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