O lavrador e carroceiro Joaquim Faria Rodrigues foi um dos muitos migrantes mineiros que chegaram a São Bernardo do Campo na década de 1940, para trabalhar nas obras da Via Anchieta, estrada que determinaria o futuro do município. Junto com ele vieram a esposa e mais sete filhos. Entre eles estava Geraldo, nascido também em Minas Gerais, no município de Liberdade, em 3 de agosto de 1930, que desde os onze anos de idade auxiliava o pai no trabalho, ao mesmo tempo em que estudava. Entre a infância e a adolescência, o futuro vereador e prefeito Geraldo Faria Rodrigues trabalhou também como office-boy na antiga agência do Banco Noroeste – local onde chegou mesmo a residir provisoriamente - como cobrador de ônibus na linha São Bernardo/Santo André e auxiliar de escritório na Tecelagem Aida. Concluiu o curso de técnico em contabilidade na Escola Senador Fláquer, em Santo André, e, em seguida, trabalhou na Swift, Brasmotor, na Cia. Cinematográfica Vera Cruz (assistente de produção) e na Refinaria e Exploração de Petróleo União S/A (chefe de compras). Depois de estudar inglês de maneira autodidata, conseguiu um emprego na multinacional Caterpillar, onde permaneceu entre 1955 e 1968, chegando a ocupar um cargo executivo e ser enviado para freqüentar, durante um ano, um curso intensivo de administração de empresas nos Estados Unidos, onde absorveu princípios teóricos que procuraria por em prática durante sua gestão como prefeito, como declarou em 1986: “Foi em função deste estudo e este trabalho que eu pude trazer para São Bernardo, quando prefeito, um contribuição que eu denominei Administração- Sistema Empresa” (1).
Geraldo entrou na vida política em 1954, a convite de Alfredo Sabatini. Participou então da fundação do Partido Social Progressista na cidade, tornando-se um dos dirigentes municipais da organização. Pelo PSP, foi eleito vereador pela primeira vez em 1955. Nas duas eleições seguintes Geraldo novamente conquistaria uma cadeira no legislativo municipal, sendo que em 1960 tornou-se presidente da câmara e, no pleito de 1963, seria o candidato mais votado do município. Em 1968 foi eleito vice-prefeito na chapa vitoriosa de Aldino Pinotti.
Em 15 de novembro de 1972, Geraldo Faria Rodrigues foi eleito prefeito de São Bernardo do Campo pela ARENA, após vencer Tito Costa do MDB, em uma campanha eleitoral marcada por acusações de uso ilegal da máquina pública por parte da chapa vencedora (2). Apesar da posse de Geraldo ocorrer normalmente em fevereiro de 1973, devido às contestações apresentadas por Tito no TSE, as eleições foram confirmadas apenas em agosto do mesmo ano (3).
A gestão de Geraldo ficou marcada pela criação e implantação de diversas empresas de economia mista, com controle acionário da municipalidade, que indicava seus diretores. Segundo o antigo prefeito, “na administração centralizada existem muitas limitações(...) . Na administração descentralizada muda bastante (...) ela é muito mais ágil. Criando empresas de economia mista nós poderíamos agilizar a administração da cidade, trabalhando não só com exclusividade para o município, mas também para terceiros, gerando lucros que iriam redundar em favor da população. O objetivo era, primeiro, trabalhar a custo zero, depois vinha a segunda etapa, trabalhar com lucro” (4). A denominada “Administração Sistema Empresa”, implantada por Faria Rodrigues, incluía: a PROTUR, que explorava o turismo na cidade e que havia incorporado a Cidade da Criança; a PROSERV – que contratava trabalhadores para execução de obras e serviços para a prefeitura e o governo do estado (5); a PRODASB – que executava serviços de processamento de dados para a prefeitura de São Bernardo e, também, para outros diversos outros municípios e estados brasileiros; a PROCAP , que se dedicava à construção de casas populares, com a finalidade exclusivamente social de atacar o problema da moradia na cidade; e a PROSBC, que além de ser a controladora das demais empresas e do entreposto aduaneiro AGESBEC (criado pela gestão anterior), visava a criação de projetos urbanísticos para a cidade - como os do Parque Industrial dos Imigrantes e do Novo Centro - e a execução de obras de infra-estrutura, como a abertura e ampliação de avenidas, construção de pontilhões, canalização de córregos,etc.
A PROSERV ficou encarregada das atividades de limpeza urbana da cidade, assim como da construção de alguns espaços públicos como a Praça dos Meninos, no Rudge Ramos. Em quatro anos, a empresa contratou mais de 4 mil trabalhadores, incluindo os funcionários horistas da prefeitura (6). Na gestão da PROTUR, a Cidade da Crianças recebeu grandes investimentos, gerou receita através da venda de ingressos, e viveu uma época de altíssima popularidade, recebendo visitantes de todo o Brasil. O Parque Estoril e os antigos pavilhões que haviam pertencido à Cia Cinematográfica Vera Cruz também passaram a ser controlados pela empresa. A PRODASB fez investimentos importantes na aquisição de computadores e outros equipamentos de informática nos Estados Unidos. Prestou serviços para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, para o município de Campinas, e os estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Espírito Santo e Distrito federal. A PROSBC foi responsável por obras de duplicação, pavimentação e iluminação das avenidas Piraporinha e Pereira Barreto, construção inicial das avenidas Robert Kennedy e Lauro Gomes, além da construção completa da Avenida 31 de Março. Apesar de sofrer grandes atrasos e ser abandonado na gestão seguinte, o projeto do Novo Centro resultou na reserva da área para a futura construção do Center Shop, o primeiro grande shopping da cidade. A PROCAP foi a mais problemática entre estas empresas de economia mista, terminando a gestão de Geraldo endividada, com relativamente poucos imóveis construídos e um contrato muito questionado para venda de lotes no Parque dos Pássaros, o qual foi cancelado na administração seguinte, mas esteve ligado a uma série de problemas jurídicos e financeiros enfrentados pela prefeitura nos anos seguintes.
Desde a época de sua implantação, as chamadas “PROs” foram criticadas pela oposição e, às vezes, até mesmo por aliados, tanto do ponto de vista administrativo como também pelo viés da legalidade e moralidade de sua condução. Em 1977, consideradas deficitárias e problemáticas pela administração Tito Costa, a PROCAP, a PRODASB, a PROTUR e a PROSERV foram extintas, tendo seu patrimônio, suas diversas dívidas e hipotecas, absorvidos pela PROSBC, que ainda sobreviveu, com sérios problemas financeiros, durante a década de 1980 ( 7).
Outro elemento de destaque na era Geraldo Faria Rodrigues foi a criação de um enorme e detalhado plano diretor – o Plano de Desenvolvimento Integrado do Município (PDIM) – documentado em nada menos que 70 volumes ( 6000 páginas) de estudos diagnósticos, projetos e diretrizes de desenvolvimento para os dez anos seguintes ao seu surgimento, contemplando todas as áreas da administração municipal. Elaborado ao longo de 3 anos, o plano foi transformado em lei no último mês de mandato, mas, logo depois, na administração seguinte, a promulgação desta legislação foi anulada por decreto e o projeto abandonado (8). O PDIM surgiu através da Secretaria de Planejamento e Economia, criada na reforma adminisitrativa promovida pela prefeitura em 1973, a qual também deu existência à Secretaria de Educação e Cultura e à Secretaria de Saúde e Promoção Social (9).
Outras obras importantes da administração Geraldo Faria Rodrigues foram: a conclusão ou construção de 53 prédios escolares, entre eles, as escolas estaduais Antonio Caputo, Wladimir Herzog e Wallace Simonsen ; obras de construção dos Centros Recreativos e Sociais do Bairro Assunção, Vila Paulicéia, Vila Gonçalves, Parque Santo Antônio, Vila Ferrazópolis, Jardim Ipê, Bairro Alves Dias e Bairro Taboão; Construção de postos de puericultura nos bairros Jordanópolis, Baeta Neves, Jardim Farina e do Jardim do Lago ; Construção das praças Giovani Breda, Indu Rovai, Antonio Cecato, Daniel Berg, Manoel da Nóbrega, Jardim Antares e da Bíblia ; Canalização de parte do Rio dos Meninos; Construção de pontes nas avenidas Max Mangels, José Odorizzi, D. Jaime de Barros Câmara e Estrada das Lágrimas; Ampliação da distribuição de Bolsas de Estudo; amplo programa de arborização, que resultou no plantio de mais de 150 mil árvores (10).
Depois de deixar a prefeitura, Rodrigues disputou mais duas eleições para o legislativo estadual – em 1978 e 1986 - e uma para o municipal – em 1992, não obtendo sucesso em nenhuma delas. No entanto, durante este período foi nomeado para alguns cargos públicos: Diretor Regional das Relações do Trabalho na Secretaria Estadual do Trabalho (1978), função onde sofreu forte oposição de adversários políticos e dos sindicalistas da região; Coodernador regional do MOBRAL (1981 - 1983); Presidente do Empresa de Transportes Coletivos(ETC) em São Bernardo (1995). Advogado formado pela Faculdade de Direito de S.B.C, Geraldo atuou também como empresário , tendo sido um dos sócios da construtora Garant, nos anos 1970, e proprietário da pizzaria Onassis, nas décadas de 80 e 90. Faleceu em 2005, aos 75 anos de idade (11).
Geraldo Faria Rodrigues. 1973.
Notas
(1) - Rodrigues, Geraldo Faria. Depoimento. 8/12/1986. Banco de História Oral. Centro de Memória de São Bernardo do Campo.
(2) - Jornal Folha de São Paulo. 9/1/1973 cad. 1. p4.
(3) - Jornal O Estado de São Paulo. 28//7/1973, Cad. Geral. p.4 ; Diário Oficial do Estado de São Paulo. Cad. Executivo. P.77.
(4) - Rodrigues, Geraldo Faria. Idem.
(5) - Jornal Notícias do Município. 29/01/77.
(6) - Jornal “A Vanguarda” . 30/01/77.
(7) - Cf. Jornal Diario do Grande 6/7/1984, p3. Cad.4.
(8) - Cf. Lei Municipal 2271/1977 e Decreto Municipal 5497 /77.
(9) - Cf. Lei Municipal 2052/1973.
(10) - Geraldo Faria Rodrigues Júnior. Depoimento. 23/7/2019. Centro de Memória de São Bernardo do Campo; Decreto Legislativo 684/2001.
(11) - Laranjeira, Carlos. Geraldo Faria: Tempos Difíceis. São Bernardo do Campo, Imagem e Letra, 2006. p. 54-56.
Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo
Alameda Glória, 197, Centro
Telefone: 4125-5577
E-mail: memoria.cultura@saobernardo.sp.gov.br
Veja esta e outras histórias da cidade no portal da Cultura:
https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/cultura/tbt-da-cultura