Assentada em um terreno topograficamente irregular, havendo diferença de altura de até 25 metros entre pontos de sua área, a Vila Duzzi era originalmente parte de um sítio pertencente ao casal Angelo Duzzi e Maria Dalessio Duzzi. Angelo o herdara de seus pais, Antonio e Margarida, italianos oriundos do Veneto que aqui chegaram em 1877 e o adquiram junto ao governo do império, entre as centenas de lotes que compunham o núcleo colonial de São Bernardo (1). Nele, a família se destacou pelos plantios que faziam: informes da administração do núcleo, feitos em 1891, afirmavam que o sítio dos Duzzi se tratava de " um dos lotes mais bem cultivados da linha ", possuindo "4 mil pés de videira que já davam frutos, além de outras plantações, como batata, milho e feijão". (2)

Quando por volta de 1940, depois de décadas de trabalho rural, a família resolveu lotear a área, a cidade entrava na rota da industrialização e da urbanização. O número de fábricas e de moradores da zona urbana crescia e a construção da Via Anchieta, que então se iniciava, aceleraria exponencialmente o ritmo dessas transformações. Na própria vila ou em sua vizinhança se estabeleceriam indústrias como a Tecelagem Lídia, do Grupo Matarazzo, ainda em 1946 (3); a Indústria de laminados de Madeira Selepaulo, instalada por volta de 1957 (4) e o Laboratório Bruneau , de 1959 (5) .

Entre 1950 e 1955, a ocupação de seus 140 lotes (grandes, de 400m2 cada em média) ganharia corpo, com a construção de dezenas de casas, especialmente nas ruas Angelo Duzzi e Castelo Branco, como as edificadas por João Bruni, Isabel Rusig, Antonio Duzzi, Antonio Riotti, Jacob Medici, Orlando Feliciano, Benedito do Carmo, Waldemar Gerbelli, José Moratti e Ponciano Pires de Paula (6) . Em 1957, ambas as vias somavam mais de 60 construções.

Com o crescimento da Vila, algumas áreas vizinhas não pertencentes ao loteamento original acabaram incorporadas dentro da denominação Vila Duzzi. Esse é o caso da Rua do Cruzeiro, surgida de terras pertencentes à família Corradi e loteadas aproximadamente na mesma época da área dos Duzzi. O nome desta rua é uma referência ao cruzeiro colocado ali por volta de 1950 e existente até o fim dos anos 70.

Nos anos 60 e 70, a vila teve uma melhora em sua infraestrutura com a pavimentação das ruas e a construção de escolas próximas (EMEB Rui Barbosa e E. E. Jornalista Vladimir Herzog), mas alguns problemas persistiram, o mais evidente era a dificuldade em trazer a água canalizada da estação da Represa Billings em algumas áreas mais elevadas do terreno. Em 1974, durante um período de agravamento do problema devido à uma seca na represa, começou a se aproveitar as águas de um poço artesiano localizado na área da Matarazzo, solução utilizada até o fim dos anos 70 pelo menos. (7)

Atualmente mesmo passados mais de 80 anos desde seu nascimento, a vila ainda mantém um pouco de suas características iniciais, sendo ainda possível encontrar nos seus lotes grandes, ainda não fracionados, algumas casas construídas nos anos iniciais do loteamento.

 


Acima: vista aérea tomada em 1985, onde vemos, a Rua Arthur Corradi (embaixo), e, mais acima, a Rua Jurubatuba e a Av. Faria Lima.
Abaixo: A Rua do Cruzeiro, por volta de 1992, na altura da Escola Vladimir Herzog (dir).

 

Notas:
(1) - Livro de Matrículas do Núcleo Colonial de São Bernardo, 1892-1998. E00123. Arquivo do Estado de São Paulo
(2) - Livro de Informações - Núcleo Colonial de São Bernardo. E01827. Arquivo do Estado de São Paulo, 17-02-1891 e 05-08-1891.
(3) - Correia, T.B. e Gunn, O. A Industrialização Brasileira e a Dimensão Geográfica dos Estabelecimentos Industriais. R. B. de Estudos Urbanos e Regionais v.7, n.1 - 05/2005
(4) - Diário Oficial do Estado de 13-09-1957
(5) - idem, 28-02-1959
(6) - Processos administrativos PMSBC 1671/50; 1454/50; 921/50; 991/51; 2186/51; 1706/52; 0369/52; 2712/55; 2331/55; 2387/55
(7) - O Estado de São Paulo 07-11-1974, 10-10-1978; A Vanguarda 13-01-1974

 

 

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