Até meados do século XX, as terras baixas situadas na divisa de São Bernardo com S. Paulo e S. Caetano, próximas à confluência do Rio dos Meninos com o Rio dos Couros, não eram urbanizadas: ali se situava uma propriedade rural de um ramo da Família Pedroso, secularmente enraizada na região, pertencendo, por volta de 1940, a Sra. Francisca Galvão Pedroso (1) ou a seus sucessores.
Com a construção da Via Anchieta entre 1939-1945, ao mesmo tempo em que parte daquelas terras foram desapropriadas para a construção da via, outros setores remanescentes se valorizaram, aquecendo o mercado imobiliário nas vizinhanças. Assim, nas áreas de antigos carrascais e pastos, no início dos anos 50 desenvolveram-se loteamentos urbanos, como é o caso da Vila Império, que emergiu em parcela das terras antes pertencentes aos Pedroso supracitados.
A Vila Império foi um empreendimento da empresa Imobiliária Império, da família Mansur, de ascendência libanesa, radicada na Capital. Iniciada em 1951, a vila consistia de três ruas, duas delas com cerca de 300m de comprimento, iniciando na Av. Dr. Rudge Ramos e terminando junto ao Rio dos Meninos, e mais uma transversal, com 100m de comprimento. Eram ao todo 75 lotes, sendo que já em 1951, a empresa iniciou a construção de 35 casas operárias de alvenaria no local - projetadas pelo engenheiro Joaquim da Rocha Medeiros Jr (2). Sete anos depois, o número de casas no local era cerca de 50, havendo ali até mesmo uma padaria: a Santa Cruz, de José Gomes.
Apesar do rápido povoamento, gerado pela presença de muitas indústrias nas proximidades, as condições da infra-estrutura na vila eram críticas, faltando, por exemplo, ligação à rede de água (está provida por poços) (3). Mas o problema maior, sentido desde o começo, eram as constantes enchentes. Grande parte da área era leito de inundação do Rio dos Meninos, sendo portanto quase certo o alagamento da vila na estação das chuvas. Com as águas do rio vinham também os esgotos nele despejados, criando um problema de saúde pública: em 1956, chegou a ser registrado caso de febre tifóide na área (4).
Na época, acreditava-se que com a finalização das obras de retificação e alargamento do Rio dos Meninos (incluindo o trecho na divisa de S. Caetano com S.Paulo, feito a partir de 1958), o problema seria amenizado ou eliminado (5). Mas, ainda que nos anos seguintes a infraestrutura da vila tenha melhorado em alguns aspectos, com as ligações de água e esgoto (e a inauguração do Grupo Escolar Anésia Loureiro Gama na Rua República, em 1962), a população continuaria a padecer com as constantes enchentes.
Dessa forma, considerando a ineficácia das tentativas de amenizar o problema, em 1968, já no final da administração do prefeito Higino de Lima, tentou-se outra solução: em setembro, a prefeitura aprovou lei autorizando a desapropriação ou permuta de áreas na Vila Império e também publicou decreto que tornava de utilidade pública uma gleba no Bairro Anchieta, “destinada à permuta com terrenos nas áreas inundáveis da Vila Império” (6). O objetivo era transferir a população da vila para o novo lugar, que deveria se chamar Vila Nova Império. Porém, o plano não iria adiante na administração seguinte, de Aldino Pinotti, que, em agosto de 1970, publicou decreto revogando a desapropriação (7). A resistência da população da vila em aderir à mudança nos termos propostos foi apontada tempos depois como motivo da paralisação do plano (8). A área reservada então daria lugar a um loteamento comum, transformando-se no Jardim Copacabana.
A ideia de remover a vila foi, contudo, retomada de forma definitiva no início da administração de Tito Costa, mas desta vez sem permuta com outros terrenos: entre dezembro de 1977 e maio de 1978 foram desapropriados diretamente 133 imóveis na Vila Império e na vizinha Vila Santa Madalena (que, frequentemente confundida com a Vila Império, padecia dos mesmos problemas) (9). O valor gasto destinado ao pagamento das desapropriações foi avaliado à época em 31 milhões de cruzeiros (cerca de 42 milhões de reais atuais, corrigidos pelo IGP-DI). Em agosto, parte significativa das construções já haviam sido demolidas, incluindo o prédio do Grupo Escolar, que passou a funcionar no Jardim Hollywood. Outras poucas desapropriações remanescentes seriam feitas até 1984 (10), sobrando na área da vila somente alguns imóveis junto à Av. Dr. Rudge Ramos. Anos depois nas proximidades se instalaria o Centro de Zoonoses da Prefeitura e seria aberto o campo de futebol do Cruzeiro F.C., time amador do bairro.
Acima, parte da Vila Império (no final da Rua Carneiro Leão) e o Rio dos Meninos, tendo ao fundo o prédio do Centro de Pesquisa da Ford, atual Universidade Anhanguera. 1968. Abaixo, o prédio do Grupo Escolar da Vila Império (Escola Anésia Loureiro Gama), dias antes de ser demolido. 1978. A escola foi transferida para o Jardim Hollywood.
Notas:
(1) - Planta da Estrada São Paulo-Santos- Cadastro levantado pelo DER. Arquivo do
(2) - Estado de S. Paulo
(3) - Processo PMSBC SB626/51
(4) - A Vanguarda 12-10-1957
(5) - idem 28-09-1957
(6) - idem 13-04-1957 e 25-12-1960
(7) - Lei Ordinária PMSBC1670/68 e Decreto PMSBC 1682/68
(8) - Decreto 2310/70
(9) - Folha de São Bernardo, 24-02-1979.
(10) - Decretos PMSBC 5739/77, 5475/77,5775/77, 5802/78,5811/78, 5812/78, 5813/78, 5814/78; Folha de São Bernardo 06-05-1978
(11) - Decreto PMSBC 7700/1984
Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo
Alameda Glória, 197, Centro
Telefone: 4125-5577
E-mail: memoria.cultura@saobernardo.sp.gov.br
Veja esta e outras histórias da cidade no portal da Cultura:
https://www.saobernardo.sp.gov.br/web/cultura/tbt-da-cultura