Embora próxima do centro histórico da cidade, a área da Vila Quirino de Lima, espaço que vai das ruas Brasílio Machado (lado par) à José Bonifácio (lado ímpar), delimitado ao sul pela rua Oscar Marques, passou muitos anos desabitada. Originalmente um quinhão da linha colonial São Bernardo Novo, ela, ao contrário da maioria dos lotes vizinhos, não foi adquirida originalmente por uma família interessada em ali residir. Seu primeiro proprietário, que comprou-o junto ao governo do estado em 1891, foi um morador da capital, Oscar Friedenreich (1), desenhista técnico do mesmo governo e mais conhecido por ser o pai de Arthur “el tigre ”Friedenreich, jogador de maior fama dos primórdios do futebol brasileiro. Anos depois, o lote seria adquirido por outro morador da capital, curiosamente também uma figura célebre: o professor Brasílio Machado de Oliveira, de família paulista tradicionalíssima, ex-governador do estado do Paraná, pai do jurista e historiador José de Alcântara Machado e avô do escritor Antônio de Alcântara Machado (autor dos clássicos Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China). Após a morte de BrasiÍio em 1919, a viúva Leopoldina de Souza Amaral venderia o terreno, no ano seguinte, a Quirino de Oliveira Lima, este conhecido morador da cidade. Em sociedade com um quarteto de executivos estrangeiros da Companhia Telefônica Brasileira, Quirino lançou em 1925 o loteamento da vila, inicialmente sob o nome de ‘Sítio São Bernardo”, com 161 lotes de tamanhos muito diversificados, adaptados ao relevo desigual da área. A ocupação foi bastante lenta: até 1940, sua cobertura vegetal estava quase incólume, com as futuras ruas Quirino de Lima e Wenceslau Brás delineadas apenas como trilhos. As ruas Quinze de Agosto e Oscar Marques ainda não haviam sido abertas. As poucas habitações concentravam-se nas ruas José Bonifácio e Brasílio Machado - nos lotes situados perto da confluência das duas residia a família de João Antônio da Silva (com antigas raízes no bairro de Varginha, Riacho Grande), a qual teria sido a primeira da vila. Sobre o estado semi-selvagem do lugar no tempo em se iniciava o loteamento, o ex-prefeito Hygino de Lima, filho de Quirino, lembrou ao jornal Folha de São Bernardo em 1979 que quando a vegetação, constituída de mata virgem e capoeiras, começou a ser posta abaixo para a abertura das ruas, um grande número de lebres que ali vivia fugiu para os arredores, enquanto eram caçadas por alguns transeuntes (2).


O povoamento da área tomaria fôlego a partir dos últimos anos da década de 1940. No decênio seguinte já era notável a presença na vila tanto de moradores vindos da zona rural do município (como é o caso do carvoeiro Jacob Savordelli, do Montanhão, que se estabeleceu na Brasílio Machado em 1947) (3), como de oriundos de pequenas cidades do interior paulista, como Itajubi, Piraju, Morungaba, Taiaçu e Cedral (4). A instalação de muitas fábricas de móveis nas proximidades teve importante papel na atração desses novos moradores: em 1954 na Rua José Bonifácio havia a fábrica de móveis São João; na Rua João Basso, 197, a Santa Terezinha; na Lopes Trovão, 176, a Miolaro & filhos; na Brasílio Machado, 517, a Irmãos Giusti & Cia e no n. 169, a Irmãos Zardo & Cia (5). E em 1960 na Rua Quirino de Lima, 150, a José Coppini & filhos (depois de 1968, Móveis Nuzil). Morar na vila permitia aos operários dessas fábricas rápido e gratuito deslocamento ao local de trabalho numa época em que o automóvel era inacessível à maioria da população.


Ao longo do tempo, o loteamento sofreu algumas modificações em relação ao seu plano original: as mais importantes foram em 1953, com a abertura da Rua Achiles Chapelli - que logo teve seus lotes ocupados - e a extensão da Rua Carlos Gomes até a Frei Gaspar, planejada em 1972 (6) e finalizada somente em 1980, que levou a desapropriações nas ruas José Bonifácio e Brasiíio Machado. Nessa época, já totalmente pavimentada (parte paralelepípedos, parte asfalto) e ligada às redes elétrica, de água e esgoto, poucos lotes restavam desocupados na vila.


Nas imagens, vemos acima à direita Quirino de Lima, durante passeio de barco no Riacho Grande com o ex-prefeito Wallace Simonsen (original de Beatriz Bornhausen) e abaixo a Vila Quirino de Lima, entre as ruas Brasílio Machado e José Bonifácio, em 1976.

NOTAS:

(1) Livro de Matrícula do Núcleo Colonial de São Bernardo. 1892. Acervo do Arquivo do Estado de SP.

(2) Folha de São Bernardo, 26-01-1979.
(3) Gomes, Fábio. Origens das Famílias de São Bernardo do Campo. Vol. 3. 2003.
(4) Diário Oficial do Estado de São Paulo: 11-08-1950; 10-11-1950; 20-01-1954; 25-05-1952, 30-01-1954.
(5) Processo 4022/1954. PMSBC.
(6) Decreto 3197/1972. PMSBC.

 

Pesquisa e Acervo: Centro de Memória de S.B.C.

Saiba mais sobre sua história em São Bernardo do Campo.

Visite o Centro de Memória de São Bernardo do Campo. Alameda Glória, 197, Centro.

Tel.: 4125-5577. Email:memoria.cultura@saobernardo.sp.gov.br