Até  a década de 1940, o que hoje é a  Av. Caminho do Mar era somente uma parte   não pavimentada  da estrada de mesmo nome,  então  a variante mais recente do velho caminho de Santos,  com origens remotas. A paisagem das cercanias  não havia se alterado muito nas décadas ou mesmo séculos anteriores. Quem andasse por ela ainda poderia ver  campos, capoeiras, capinzais, cultivados  e pomares,  vegetação já presente  naquelas margens em tempos ancestrais.  Contudo, algumas coisas mudaram: as propriedades do entorno eram  mais fragmentadas do que  num passado já distante, quando a Fazenda São Bernardo, dos monges beneditinos, ocupava grande parte daquele espaço.  Após o governo imperial ter comprado a dita fazenda  em  1876, a área  foi dividida em lotes rurais, formando na área atravessada pela atual  avenida  as linhas coloniais Rio dos Meninos (do início da via até a altura do cruzamento com a Av. Winston Churchill)  e parte da São Bernardo Velho (trecho no Bairro Anchieta).  Nos anos 1940, uma parte dessa área  era habitada por famílias radicadas  na Linha  Rio dos Meninos há muitos anos como  os  Costa, os Daré  e os  Tomé.  Outra  parte  estava nas mãos de  empreendedores mais abastados da Capital que  haviam adquirido terras já de algum proprietário intermediário ou mesmo diretamente dos colonos pioneiros. É caso do  casal Nathalia Bogaert e  Ettore Dacomo, sócios de uma fábrica de perfume em São Paulo e donos do loteamento Vila Caminho do Mar (1), então ainda quase desocupado,  e  Alfredo Dias Carneiro, ex-comerciante de rádios na Rua General Carneiro, no centro paulistano, e  dono da faixa de terras entre o largo São João Batista  e , aproximadamente, a altura do espaço hoje ocupada pela Termomecânica (2). Dacomo e  Carneiro  também foram sócios  de Arthur Rudge na Sociedade Anônima Caminho da Mar (3), empresa que explorava os direitos  de pedágio dos poucos automóveis que passavam  pela estrada. A firma foi aberta em 1920,  após ampla reforma feita  por Rudge na via, contando também com a participação de vizinhos   que ajudaram  “com terrenos, dinheiro, materiais de construção, maquinário, instrumentos e utensílios de trabalho”  e por isso foram incluídos como acionistas da empresa. A sociedade seria adquirida em 1923  pelo Governo do Estado, que passou então a administrar  a estrada (4).

A construção  da Via Anchieta (1939-1947) e a expansão dela em novas faixas  nos anos posteriores incorporaria  parte do trajeto da estrada, sobrando contudo trechos remanescentes, como os  da futura avenida.  A instalação  no percurso desta ou próximas a ele  de indústrias como   Retorcedeira Ipiranga (1948),  Termomecânica  (1955), Grob (1962) e outras, atraídas pelas vantagens  logísticas  da proximidade  com a Anchieta,   foram propulsoras de uma rápida transição   naquela área, que povoou-se rapidamente, destravando os muitos loteamentos próximos. Incorporando-se à malha urbana, surgiria  então oficialmente a Avenida Caminho do Mar, que recebeu sua atual denominação pelo decreto 559 de 1962. Dois  anos depois ela receberia obras de alinhamento  e em  1966 iniciou-se sua pavimentação, acompanhada da retirada dos velhos postes de madeira da Companhia Telefônica, construção de calçadas  e instalação de iluminação (6). Em 1975, a via ganharia ainda mais um melhoramento  com a criação da Praça dos Meninos  e seu ímpar jardim japonês, construída no antigo campo do Meninos F.C .  

O comércio também se expandiu e se diversificou nesses anos. Se  no final da década  1940 havia  poucos estabelecimentos na via,  como os  armazéns de Alfeu Tavares dos Santos e Ernesto Augusto Cleto e o  botequim/padaria de Antonio Silverio (5), nos anos 1970  as atividade comerciais e de serviços ali já abarcavam desde concessionárias de automóveis até escritórios  de contabilidade, imobiliária  e  casas de venda  de máquinas, isso sem contar as dezenas de lojas do Mercado Municipal, inaugurado em 1968, maior centro comercial daquela região até os dias de hoje.

Na imagem, a avenida no final da década de 1960, até  a altura da esquina com a Rua Raposo Tavares (canto inferior esquerdo), onde funcionava  o Bar  Pacheco (do português João Pacheco Barbosa). No  outro lado da via, mais acima, o prédio da indústria de máquinas têxteis Bertuso SA, (onde hoje está o Parque Salvador Arena) e abaixo,  área da Termomecânica.
Pesquisa e Acervo: Centro de Memória de São Bernardo

(1)    Diário Oficial do Estado de São Paulo,10-08-1918, 24-10-1933
(2)    Idem, 18-01-1934, 12-07-1938
(3)    Correio Paulistano, 19-01-1920
(4)     Diário da Noite, 25-01-1962
(5)     Impostos de Licença, 1947. PMSBC.
(6)     A Vanguarda 20-02-1966

 

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