Percorrendo nosso caminho para despertar a curiosidade e o reconhecimento das sabedorias dos nossos povos originários, tomamos contato com um dos princípios da cosmovisão dos povos indígenas brasileiros: a totalidade do seu ser está em se reconhecer como parte do mundo natural, que é também espiritual. Sem essa compreensão, corremos o risco de estranhar e de nos perder ao falarmos sobre a educação entre os povos indígenas.
Ailton Krenak, escritor indígena, ao falar sobre infância e educação nas sociedades, aponta para a importância das crianças serem compreendidas como seres portadores de novidades, capazes de inventar outros mundos, que é o oposto da ideia das sociedades ocidentais, nas quais se formata a criança para viver um suposto futuro.
A infância, no mundo dito civilizado, é compreendida apenas como um período passageiro, em que o indivíduo está se preparando para ser adulto. Aqui duas coisas diferem e divergem da concepção de infância e de educação entre as sociedades indígenas. Explicamos abaixo:
Em primeiro lugar, a infância é vivida em sua plenitude. O próprio Krenak aponta que o adulto que ele se tornou é produto de sua infância. Ainda hoje ele é guiado pela criança que foi. Em sua cosmovisão, a infância até os sete anos é o momento em que as almas das crianças ainda não se fixaram no corpo; ainda estão direta e umbilicalmente ligadas ao mundo natural e espiritual. É o período em que tudo é divino e maravilhoso. Essa experiência deve ser respeitada e preservada.
A segunda questão fundamental é a ideia de que a educação é prática coletiva. Num grupo indígena, o que um sabe, todos podem e devem saber, pois não há conhecimento como forma de poder ou hierarquização nas sociedades indígenas. Não existe a ideia de competição ou de mérito individual, conforme a metáfora: "não existe a imagem do pódio, onde o lugar mais alto é reservado ao melhor indivíduo". Sabe por quê?
Porque na pedagogia dos povos indígenas não existe lugar no mundo onde caiba apenas uma pessoa. Daí que toda a aldeia e toda prática da sua comunidade é espaço e lugar de criança. Elas estão próximas nos momentos importantes da história de suas sociedades, tais como nas reivindicações por demarcação e respeito por suas terras, por exemplo.
Dessa forma, se pudéssemos resumir a infância e a educação entre os povos indígenas, diríamos: a educação infantil não é uma ponte para o futuro; é, sim, uma porta para outros mundos possíveis.
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Ficou curioso por saber mais?
Acesse os links abaixo:
Darcy Ribeiro O Povo Brasileiro, a Matriz Tupi:
https://youtu.be/rQOPdiEdX24
Sobre as transformações e necessidades da educação escolar dos povos
indígenas brasileiros:
http://www.funai.gov.br/index.php/educacao-escolar-indigena?start=1#
Um estudo sobre a importância da história, memória e tradição nas sociedades indígenas brasileiras, a partir da observação entre os Kaingangs (povo pertencente à família Jê, que ocupa terras indígenas localizadas nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul):
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882010000200004
Entrevista com Ailton Krenak sobre educação e o tempo:
Um estudo sobre a infância indígena e outras infâncias:
https://seer.ufrgs.br/EspacoAmerindio/article/download/12647/10473
Documentário O Sonho da Pedra - Ailton Krenak:
Parte 1
https://youtu.be/xm7geCZDxwM
Parte 2
https://youtu.be/gd1467rd9J4
Parte 3
https://youtu.be/vmnIUpvxHBE
Parte 4
https://youtu.be/CmcLihBACco
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