LEITORES DA CIDADE - “Fazia bicos, biscates, viração, varejos, o que espaventava a carteira assinada, estabilidade, dinheiro contado no fim do mês.” (Inferno Provisório – Luiz Ruffato).

 “Fazia bicos, biscates, viração, varejos, o que espaventava a carteira assinada, estabilidade, dinheiro contado no fim do mês.” (Inferno Provisório – Luiz Ruffato).

Gostaríamos de destacar alguns livros de autores e autoras contemporâneos brasileiros que lançam luzes sobre o mundo do trabalho com suas prosas ficcionais, mas que guardam verossimilhança com a realidade. Trazem, nas suas narrativas, cenários e personagens que vivem do seu trabalho e experimentam suas contradições, dilemas e tensões, sejam coletivas ou individuais.

Olhos D’Água (2014) – Conceição Evaristo 
Em Olhos d’Água, Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira, abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro.

Enterre seus Mortos (2018) – Ana Paula Maia 
Edgar Wilson é “um homem simples que executa tarefas”. Trabalha no órgão responsável por recolher animais mortos em estradas e levá-los para um depósito onde são triturados num grande moedor. Seu colega de profissão, Tomás, é um ex-padre excomungado pela Igreja Católica, que distribui extrema unção aos moribundos vítimas de acidentes fatais que cruzam seu caminho.

Crônicas da Vida Operária (1978) – Roniwalter Jatobá 
Neste livro, com uma linguagem simples e seca, o autor reflete o modo de falar do migrante nordestino, inaugurando uma literatura proletária brasileira.

Inferno Provisório (2016) – Luiz Ruffato
Um dos grandes escritores brasileiros em atividade, Ruffato compôs um poderoso mosaico das andanças e agruras do trabalhador brasileiro. Narrado num caleidoscópio de vozes, o romance dá a palavra aos desfavorecidos e às figuras invisíveis que construíram e transformaram nossas cidades e nossas fábricas. Verdadeiro épico proletário, Inferno Provisório é uma saga descomunal sobre um Brasil que, muitas vezes, não queremos ver.

Contos Negreiros (2005) – Marcelino Freire
Contos Negreiros apresenta uma releitura moderna do preconceito, dando um novo olhar aos marginalizados da sociedade. Um dos expoentes de sua geração, Marcelino Freire apresenta 16 narrativas de brasileiros miseráveis que vendem de tudo para sobreviver: drogas, o corpo e até os órgãos. Abordando temas delicados como a prostituição infantil e indígena em Yamani, o preconceito racial e conflito de classes em Solar dos Príncipes e a homossexualidade em Coração, o livro chega ao seu ponto alto em Nação Zumbi, história de um personagem sem nome, que recorre ao tráfico de órgãos para sobreviver.

Torto Arado (2019) – Itamar Vieira Junior
Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.

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