Imagem Angolanos em São Bernardo   Os bantu é um grupo étnico linguístico originário de várias regiões do Continente Africano, como o Sul da África e a África Central. Entre os vários países africanos de origem, podemos citar Angola. Situada na costa ocidental africana, foi um dos países que mais contribuíram para a Cultura Brasileira. A chegada dos primeiros angolanos em terras brasileiras se deu de forma violenta e arbitrária através do tráfico de escravos do século XVI ao século XIX, impondo as marcas da escravidão que não são apagadas pelo tempo.

É importante ressaltar que o fluxo migratório de angolanos para o Brasil ficou marcado por três momentos marcantes: como citado acima, a migração compulsória e tráfico de escravos (1531 a 1810); processo migratório, de 1957 a 1970, com independência de colônias portuguesas no continente africano e conflito armado em Angola; e, a partir de 1980, migração de refugiados das guerras naquele país. Escravidão, conflitos, ruptura política e guerra civil movem pessoas pelo mundo.

As tradições e referências culturais desse povo foram fundamentais na construção da identidade brasileira. O vocabulário, os rituais religiosos, a comida, a música, a dança e outras formas de expressão estão incorporadas ao nosso cotidiano, sobretudo nos espaços de convivência e interação da negritude. Apesar das insistentes tentativas de apagamento e das investidas eurocêntricas que funcionam como uma extensão ininterrupta do processo de colonização, a influência dos povos africanos em nossa cultura é algo inquestionável.

Um exemplo dessa forte influência é a Capoeira, como dança, como jogo, como elemento de resistência, é uma das mais marcantes expressões do legado africano em nossa cultura e vida cotidiana. A Capoeira Angolana tem características muito peculiares e se difere da chamada Capoeira Regional, pois usa bastante movimentação com as mãos no chão, muito equilíbrio de cabeça para baixo, muita malemolência e um golpe súbito como elemento surpresa. Os movimentos são inspirados nos animais silvestres.

Um dos principais mestres da Capoeira Angolana foi Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha. Filho do espanhol José Señor Pastinha e da baiana Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na Rua do Tijolo, em Salvador, Bahia. Pastinha teve como mestre um africano chamado Benedito, que lhe ensinou as técnicas da Capoeira Angolana e, sobretudo, os aspectos culturais e ritualísticos que eram inerentes à luta. O mestre sempre considerou que o principal aspecto da Capoeira era o respeito entre os angoleiros.

No ano de 1910, logo após um breve período na Marinha Brasileira, Pastinha, o maior dos mestres dessa Capoeira, começou a dar aula escondido na sua casa, pois, naquele momento, a Capoeira constava no Código Penal. Entre 1913 e 1934, teve de trabalhar de pintor, pedreiro, entregador de jornais e até tomou conta de casa de jogos. Foram anos de clandestinidade. Em paralelo às lidas com a capoeira, Pastinha estudou no Liceu de Artes e Ofícios e se mostrou um sensível pintor.

Na década de 1940, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo Capoeira Angola (CECA), localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a primeira escola de Capoeira Angolana. Em 1952, o CECA foi oficializado e três anos depois sua sede muda para o endereço mais famoso: o casarão da Praça do Pelourinho. Uma grande vitória contra o racismo e a violência do Estado. Em 1966, Mestre Pastinha finalmente conheceu a África no 1º Festival Mundial das Artes Negras, em Dacar, no Senegal. A Capoeira Angolana voltou à sua origem seminal, um momento maior de reconhecimento da perseverança, do cuidado e da beleza que envolveram a luta pela preservação e difusão do ledo angolano no Brasil. Pastinha faleceu em 1981, sem enxergar (consequência de uma trombose cerebral) e paraplégico, na capital baiana.

Capoeira é muito mais do que uma luta, Capoeira é ritmo, é música, é malandragem, é poesia, é um jogo, é religião. (...) A Capoeira é tudo que a boca come”. “Angola, Capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento: ‘Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista’” (Mestre Pastinha).

 

 

 

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