Maqluba, mjadra, shawarma, babaganuche, homus…
 
Quem já provou um desses pratos decididamente não vai querer guerra com ninguém. A culinária dos países de cultura árabe é reconhecidamente uma das mais saborosas do mundo e seus povos estão entre os que mais admiram e respeitam a experiência de comer. A dupla provocação (guerra e culinária) em nossa introdução não foi à toa. Infelizmente, as guerras e perseguições a minorias são fortes motivos para o deslocamento forçado de populações inteiras ao redor do mundo. E isso ainda é muito forte na migração dos povos árabes.
 
Imigrações árabesNo início, todos que chegavam aqui no Brasil, no final do século XIX, ficavam conhecidos como “turcos”. Sabe por quê? Porque toda aquela região estava sob o domínio do Império Turco-Otomano; logo, seus passaportes viriam com essa “nacionalidade”.
 
Ao contrário do que se pensa, a maioria dos primeiros contingentes migratórios eram formados por católicos, ortodoxos ou romanos, que buscavam na América um lugar para obter terras e viver. Dizemos “América” porque a maioria queria migrar para os Estados Unidos da América, mas acabaram no Brasil, entre outros, porque alguns agentes de viagem diziam que “América era tudo igual”.
 
Neste primeiro momento, a maioria dos povos era composta de libaneses e sírios. Contudo, essa corrente migratória entre Brasil e países árabes acabou por se consolidar, criando-se uma rede de amparo bastante consistente e perene, o que facilitou abrigar outras famílias que para cá vieram ao longo do século XX.
 
Após a Primeira Guerra Mundial e, sobretudo, ao fim da Segunda Guerra, quando da criação do Estado de Israel, é que se intensifica a migração de árabes muçulmanos, devido à instabilidade causada pela política expansionista dos judeus sionistas. Palestinos, jordanianos e iraquianos, juntam-se aos já imigrantes libaneses e sírios nesse fluxo. Economicamente, consolidam-se como comerciantes e, aqui em São Bernardo, sua forte presença no mercado moveleiro fez valer a imagem de “capital dos móveis”.
 
Voltando ao Oriente Médio, as tensões e as guerras provocadas fez famílias inteiras deixarem suas casas, parentes, trabalhos e histórias para trás, mas, na memória as receitas foram trazidas e compartilhadas com os povos que os receberam.
 
Se não podemos mais confundir e dizer que todos são turcos, também é possível dizer que entre os árabes, as fronteiras regionais também podem trazer uma diferença nas pitadas de tempero no preparo dos alimentos. Um molho de alho que pode ser substituído por tahine num shawarma; uma couve-flor no lugar da berinjela; o comer com as mãos como forma de saborear a comida e a conversa que se segue, e por aí vamos…
 
A alimentação tem tamanha importância na vida dessas culturas, que até mesmo a religião tem suas interdições e datas importantes. Assim como entre judeus, existe a proibição de se alimentar da carne de porco, por ser considerada impura. Há também restrição quanto ao consumo de bebidas alcoólicas. Os alimentos devem ser “halal”, ou seja, permitidos de acordo com as regras escritas no Alcorão (livro sagrado do Islã). Existe, inclusive, toda uma liturgia para o abate de animais, para que seja considerado “halal”. E isto, em sinal de respeito a Allah (Deus), mas também ao animal que servirá de alimento.
 
Durante o Ramadã (ou “Ramadão”, o nono mês do calendário islâmico, que se baseia nos ciclos lunares), o jejum é um ato também em respeito aos mais necessitados. Sua principal importância, porém, deve-se a ser, nesse mês, o momento em que o arcanjo Gabriel revelou ao profeta Muhammad (Maomé) o Alcorão, segundo a religião islâmica. 
 
(…). Durante o Ramadão não se pode comer nem beber enquanto estiver claro. Dura provação quando este período coincide com os dias mais longos e quentes. Mas as refeições noturnas, muito ricas, revestem-se então de um caráter festivo que ajuda a suportar as privações. (…). Para comer, usam só três dedos da mão direita, previamente purificada. O alimento é preparado de modo que não seja necessário o uso de talheres. (…)”. 
(Flandrin e Montanari - História da Alimentação)
 
Acontecendo no mês de abril, a data precisa é dada a partir do aparecimento da Lua crescente no nono mês do calendário árabe, que é um calendário lunar.
 
Como curiosidade, o nome “Ramadã” seria uma derivação de “calor escaldante”. Isso nos países árabes, porque aqui é um mês com temperaturas mais amenas e dias com duração equilibrada. Quando é o Ramadã mesmo? Neste ano de 2021, aconteceu entre 13 de abril e 12 de maio.
 
Aqui em São Bernardo do Campo, boa parte da comunidade árabe instalou-se próxima ao centro da cidade, mais precisamente na Vila Euclides e Jardim das Américas, tanto que foi construída a Mesquita Abu Bakr Assidik, inaugurada em 1989. Nela, além dos serviços religiosos, podemos encontrar boas dicas sobre onde comer uma boa comida árabe, sem dever nada aos restaurantes de São Paulo. Vamos experimentar?
 
E como falamos sobre a riqueza culinária dos povos árabes, vamos terminar o texto com uma receita.  Sabe o que é maqlub? Maqlub, maklub, maqluba, a depender do país de onde pegar a receita. O prato também é conhecido por arroz virado, pois a finalização do prato consiste em virar todo o conteúdo da panela num prato ou travessa. Seus ingredientes:
 
  • 1 peça de músculo;
  • Pimenta síria;
  • Canela;
  • Água quente até cobrir;
  • 1 berinjela grande ou duas pequenas;
  • 3 xícaras de arroz agulinha;
  • 2 cebolas;
  • 1 litro de óleo;
  • Castanhas;
  • Manteiga.
 
 
Ao final, o modo de preparo em vídeo para facilitar o preparo.
 
Excelente material do IBGE sobre as migrações árabes:
 
Sobre comunidade muçulmana em São Bernardo do Campo:
 
Sobre a presença muçulmana no Brasil:
 
Sobre alimento halal:
 
 
Sobre o Ramadã:
 
Sobre o livro História da Alimentação:
 
 
Receitas de alguns pratos árabes:
 
Maqlub
 
Mjadra
 
Charuto de folha de uva:
 
 

 

 

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