Mário de Andrade e os projetos no Departamento de Cultura:

A Biblioteca Itinerante e os Parques Infantis.


“Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...”


BIBLIOTECA PÚBLICA LUGAR DE CONHECIMENTOS - Mário de Andrade e os projetos no Departamento de Cultura: A Biblioteca Itinerante e os Parques Infantis.     Mário de Andrade era múltiplo: escritor, pesquisador, gestor cultural e tantas outras facetas que o tornam uma fonte quase inesgotável de matéria-prima para pesquisas sobre a cultura e a educação brasileiras. E esses “trezentos Mários” começaram a se delinear desde a juventude em que seu interesse pelas letras e pela música aflorava por meio de educação formal, embora seu caráter autodidata o tenha levado a diversas áreas do conhecimento.

É provável que essa própria experiência com a educação – de uma família privilegiada econômica e culturalmente – aliada às manifestações do movimento cultural modernista tenha contribuído para reflexão acerca das diretrizes (determinadas em conjunto com o jornalista Paulo Duarte, chefe de gabinete do então prefeito Fábio Prado) de sua gestão à frente do Departamento de Cultura de São Paulo (1935-1938). Uma das propostas era a difusão da cultura, sobretudo nas camadas mais populares da sociedade, reforçando a ideia da transformação pela educação e pela cultura.

No contexto da década de 1930, em que grandes transformações sociopolíticas e o engajamento de intelectuais contribuíam para a efervescência cultural ainda elitizada, um pioneiro projeto educacional (ainda que não o fosse formalmente escolar) ganha grande destaque e populariza-se nas mãos de Mário de Andrade: os Parques Infantis.

Naquele tempo, a vida econômica e cultural da cidade de São Paulo estava restrita ao centro e, consequentemente, à elite intelectual.

Nos arredores, localizavam-se os bairros operários, em sua maioria formados pelos migrantes que ajudaram no desenvolvimento da cidade, mas que não tinham acesso aos benefícios desse desenvolvimento. As condições precárias em que esses trabalhadores viviam nas periferias refletiam-se em suas famílias, sobretudo na saúde e na educação das crianças.

Os Parques Infantis foram implementados em 1935, inicialmente em três desses bairros operários: Ipiranga, Mooca e Lapa. A proposta dos Parques Infantis era proporcionar aos filhos dos operários uma área para além do lazer. Os grandes jardins na periferia da cidade foram transformados também em espaços de recreação para as crianças, mas com foco em práticas pedagógicas mediadas, de modo a permitir o aprendizado por meio do lúdico. Ali, as crianças também recebiam atendimento de saúde.

Essa utilização de jogos e brincadeiras para ensino em espaços carentes de equipamentos públicos teve grande influência ao longo da história da educação nacional.

A ideia de promover o acesso à cultura para além das fronteiras do centro socioeconômico da cidade também deu origem a outro projeto pioneiro do Departamento de Cultura de São Paulo.

Por meio da Divisão de Bibliotecas, responsável pela então Biblioteca Municipal de São Paulo (atual Mário de Andrade) e dirigida pelo bibliotecário e bibliófilo Rubens Borba de Moraes, foi criada, em 1936, a Biblioteca Circulante (ou Itinerante ou, atualmente, ônibus-biblioteca), que consistia em um carro/caminhão cheio de livros que percorria os bairros para levar a biblioteca a quem não tinha acesso.

Baseada em experiências na França e Estados Unidos, a biblioteca circulante de São Paulo iniciou-se com um caminhão Ford (doado) adaptado em biblioteca, que estacionava em parques como o da Luz e, também, nos Parques Infantis, de forma a fomentar o trabalho desse outro projeto do Departamento, com livros selecionados para tal público.

Nas próprias palavras de Mário de Andrade o principal objetivo da Biblioteca Circulante seria “levar o livro ao leitor e criar uma orientação cultural”.

Ainda segundo Rubens Borba de Moraes, o “carro biblioteca” foi adquirido como doação por Paulo Duarte junto à Companhia Ford e posteriormente adaptado. A partir de janeiro de 1936, a Biblioteca Itinerante começou a atender no Jardim da Luz, Parque Siqueira Campos, Praça da República e no Parque Dom Pedro I. Eram livros, revistas, cadeiras de lonas e, claro, pessoas para atender e o público que vivia distante (física e simbolicamente) dos equipamentos culturais.

A passagem de Mário de Andrade pelo Departamento de Cultura de São Paulo foi meteórica, mas algumas ideias e concretudes na gestão cultural nasceram naquele momento. Diverso e polissêmico, Mário de Andrade abriu veredas importantes e instigantes para o diálogo educação e cultura. Todo momento é momento de (re)ler Mário de Andrade.


REFERÊNCIAS:

https://www.scielo.br/pdf/es/v20n69/a04v2069.pdf

https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/3415/1/Marcelo%20Burgos%20Pimentel%20dos%20Santos.pdf

http://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/72016/75262

http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400515561_ARQUIVO_texto.anpuh.rj.2014.pdf

https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/85069/220746.pdf

https://www.revistas.usp.br/cpc/article/download/144681/147339

http://centrocultural.sp.gov.br/site/wp-content/uploads/2016/10/CCSP-catalogo-missao-pesquisas-folcloricas.pdf

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-28012014-121948/publico/LeonardoAssisCorrigida.pdf

https://www.youtube.com/watch?v=T03wusMrjBc

https://www.youtube.com/watch?v=tpQ66vlU1jQ

https://www.youtube.com/watch?v=MDWwPpTq2Ig

 

 

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