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Laerte Ramos

Laerte Ramos

31 de Mar de 2017

Guia da Cidade: Como o pensamento de Rudolf Steiner influenciou o seu trabalho?

Laerte Ramos: Estudei 12 anos na Escola Waldorf Rudolf Steiner. Não estudei a fundo a filosofia Waldorf, mas absorvi durante todos este anos de formação a pratica dela. Acredito que a influencia está em tudo que faço, pois meu trabalho é extremamente manual, sempre exigindo desafios na pratica. Na escola, aprendemos a lidar com vários materiais como pedra, madeira, argila, metal, tecidos, lã, e tudo isto desde pequeno. O material mais utilizado na Escola Waldorf acredito que foi a argila mesmo, tirando os gizes de cera de abelha que tenho na memória o cheiro ate hoje.

 

Guia da Cidade: Como enxerga a relação entre o artesanal e a tecnologia?

Laerte Ramos: Gosto de unir a cerâmica que é uma arte milenar a tecnologia. A cerâmica serve como uma casca para um "recheio robótico". Meus trabalhos, nos últimos anos, vem se transformando em grandes instalações e a cerâmica tem sido uma constante em minhas pesquisas. Acho poderoso poder unir estas duas artes e isto está presente neste conjunto que apresento nesta exposição chamada "r.a.m.b.l.i.c.o.r.â.m.i.c.o.s". Não entendo muito de tecnologia, mas estou em um caminho onde a aprendizagem nesta área se amplia com esta oportunidade.

 

Guia da Cidade: Como foi a sua experiência na China, que tem uma grande tradição com a cerâmica?

Laerte Ramos: A experiência na China foi incrível. Fiquei um mês na cidade de Jingdezhen desenvolvendo projetos e aprendendo muito sobre a arte da porcelana. Os chineses tem habilidades incríveis, é lindo ver tamanha dedicação ao trabalho e o respeito que tem pelos torrões de terra. O projeto foi premiado e financiado pelo programa Rumos Itaú Cultural, tornando possível a pesquisa e o desenvolvimento de um mini documentário que conta um pouco sobre esta experiência.

- Acesse o documentário pelo link: JINGDEZHEN - The Pottery Workshop by Studium Generale (ENGLISH SUBTITLE)

 

Guia da Cidade: Quais as diferenças/semelhanças entre as vivências no Brasil, na Europa e no Oriente?

Laerte Ramos: Para um artista é fundamental transitar pelo mundo. Fazer exposições, conhecer outros artistas, fazer amizades, e perceber outras culturas. Claro que vale a pena lembrar que o nosso Brasil é grande, e também temos muitas culturas e também vale mais ainda viajar e conhecer cada canto deste grande país. O mais importante de viajar, é que percebemos melhor nossos problemas, nossas soluções e obtemos novos parâmetros de comparação que servem de aprendizado. Outras línguas, hábitos, comidas, materiais e cheiros são essenciais para arejar a produção de um artista, por isto as residências são tão importantes e servem de formação. Algumas experiências fora demoram um tempo para serem absorvidas pelas pesquisas e entrar em produção como uma obra de arte. As residências permitem também, termos a experiência de morar em um país estrangeiro, e não absorver a cidade como um turista, indo em pontos já viciados e esgotados, mas se perder em vielas e aprender com a cultura local.

 

Guia da Cidade: Como enxerga a arte contemporânea hoje?

Laerte Ramos: Acredito que a arte contemporânea serve mais para o mercado da arte do que pela cultura em geral no nosso país. Os meios de transitar a arte favorecem mais o bom negócio do que a essência de trocar os saberes culturais com a sociedade. Vejo um grande degrau separando a arte do povo, porém encontramos forças em poucas instituições que resignificam a cultura e enxergam este problema trazendo soluções palpáveis como o Sesc e o Sesi. Alguns museus também se tornam parceiros de artistas, a fim de estabelecer um diálogo mais próximo, como o caso do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba. 

 

Guia da Cidade: Quais artistas que admira do passado e das novas gerações?

Laerte Ramos: Os artistas que mais admiro são aqueles que encontraram as mesmas dificuldades que eu, da mesma geração, e são muitos: Rogério Degaki (in memorial) Fabrício Lopes, Ulysses Boscolo, Felipe Cohen, André Komatsu, entre tantos outros artistas, amigos e colegas de profissão. Da geração mais nova, também temos um grande numero de talentos como Yuli Yamagata, David Magila, Thiago Toes e Guilherme Callegari, os dois últimos do ABC. A Yuli estará presente na exposição ocupando o hall de entrada das duas salas principais da Pinacoteca. A convidei pessoalmente para fazer parte do projeto devido a importância que dou a nova geração.

 

Guia da Cidade: Como foi a seleção das esculturas que serão expostas? Quantas são?

Laerte Ramos: A série de esculturas que apresento se chamam "random", são em cerâmica e possuem robôs dentro que permitem elas se chocarem dentro de um ringue. Elas se batem, mas não quebram, porque possuem uma faixa de borracha protetora que nem os carros de bate-bate. A escolha desta série aconteceu devido ao próprio projeto ter sido premiado pelo Programa de Incentivo Cultural do Estado de São Paulo, o PROAC. Este edital permite que artistas e produtores adquiram uma verba para tornar possível um projeto inédito. Acredito que como estas esculturas possuem a alma dos carrinhos de bate-bate, nada melhor do que apresentar esta serie dentro/ao lado da Cidade da Criança. Ao todo esta série possui 12 esculturas, mas como o espaço da Pinacoteca é grande, acredito que eu vá levar outras séries de cerâmica para fazerem diálogos com este trabalho, como o caso da série "Acesso Negado & Acesso Negrado", que deram origem a "Random". Vale a pena lembrar que estou buscando parcerias com grupos "makers", que oferecem oficinas de robótica para as crianças/adolecentes/adultos.

 

Guia da Cidade: Qual tem um maior destaque?

Laerte Ramos: A série "Random" tem mais destaque devido ao prêmio recebido, e também por se tratar de uma obra nova, com novos desafios. Fico feliz de inaugurar este novo trabalho na Pinacoteca, acho importante valorizar espaços que precisam de mais atenção de todos: Prefeitura, artistas e publico. Todos precisam usar este espaço publico da melhor maneira.

 

Cuia da Cidade: Já expôs ou conhece a Pinacoteca de São Bernardo do Campo? O que acha do espaço?

Laerte Ramos: Sim, conheço, já fui visitar e fazer as devidas visitas técnicas para poder executar a montagem de minha exposição. O espaço é lindo, grande e bem localizado. Acredito que abrindo uma porta para a Cidade da Criança, pode-se obter um numero maior de visitantes, mas teria que entender como se daria esta logística. A Pinacoteca precisa de mais artistas procurando pelo espaço para fazer exposição, assim como o publico usar mais o espaço para lazer e diversão. Com um publico mais ativo, de certo a tendência é melhorar o que já temos. Em 2000, acredito que ganhei um prêmio em um salão de arte na Pinacoteca, e já faz 17 anos. Lembrei de um funcionário que ainda anda por La. O prêmio era aquisição, então o trabalho premiado faz parte do acervo da Pinacoteca. Esta política de fazer salões e editais é fundamental para se criar acervo. Vi que a Pinacoteca tem obras significativas de artistas como a Sandra Cinto, Eduardo Srur, Daniel Melin, entre outros, no acervo.