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Ronaldo Ventura

Ronaldo Ventura

31 de Mar de 2015

Um artista inquieto sem medo de desafio

De 1992, quando começou a fazer teatro, para cá, Ronaldo Ventura busca desvendar os mistérios da mímica, do circo, das danças tradicionais brasileiras. Estudou teatro clássico japonês e mergulhou no universo de mestres como Grotowski, Eugênio Barba e Luis Otávio Burnier. Neste mês, dois espetáculos encenados nos palcos da cidade têm, nos créditos, o nome deste ator, diretor, dramaturgo e escritor, que mora no bairro Paulicéia.

 

Guia da Cidade: Como sua formação em Educação Física ajuda a ser ator e diretor?

Ronaldo Ventura: A Educação Física estuda o corpo humano, suas possibilidades de movimento, suas potencialidades... E meu teatro sempre foi baseado no que o corpo do intérprete produz e representa. Enquanto ator, aprendi como dispor do meu corpo de uma maneira mais eficiente. Enquanto diretor, aprendi com a Educação Física como ajudar o ator a alcançar sua eficácia.

 

Há ligação entre a peça Bendita entre as mulheres e o projeto do grupo Teatro dos 108 Desejos?

Ronaldo Ventura: Há a ligação ideológica, que é combater a ignorância. As atrizes do Bendita entre as mulheres, a Ana Claudia Lima e Stela Ramos, me chamaram para participar do projeto porque conheciam o meu trabalho com o Teatro dos 108 Desejos. Juntos, fizemos um espetáculo bem bonito, que descreve a história real da primeira mulher condenada por amar outra mulher. Um tema urgente nos dias de hoje.

 

Ori Othello é uma adaptação da obra de Willian Shakespeare. Qual é o diferencial do espetáculo?

Ronaldo Ventura: O grande diferencial foi a pesquisa em cima da corporeidade da dança afro. O elenco se apropriou da dança afro para criar as ações dos personagens, isso criou uma movimentação dinâmica, rítmica e ativa.

 

Qual é o objetivo da dança dos Orixás? Qual é a relação com o espetáculo?

Ronaldo Ventura: A dança dos Orixás é uma dança mítica e mística. Mítica porque suas movimentações contam histórias. Os dramas e o cotidiano dos Orixás estão representados em sua dança. Mística porque sua psique, sua ética, suas potencias também estão presentes naqueles passos de dança. E isso gera uma força cênica e uma plástica que amplia e muito a presença do ator. Não foi uma questão religiosa, mas uma questão estética. Claro que tratada com todo o respeito que todas as crenças merecem.

 

De um passado recente para cá, toda vez que se fala sobre a produção cultural na cidade o nome do bairro Paulicéia vem à tona. Qual a importância do bairro neste contexto.

Ronaldo Ventura: A Paulicéia foi o maior berço cultural de São Bernardo do Campo numa época em que a cidade era um grande celeiro de arte e cultura. A Paulicéia formou artistas em todas as linguagens, muitos premiados internacionalmente. Lá, ainda moram dramaturgos de renome nacional, autores publicados, grandes nomes do balé nacional foram alunos da saudosa Miti Warangae, na Paulicéia; artistas plásticos como Sarro e Mikio, também produziram muitas de suas obras no bairro. Quando o Teatro Procópio Ferreira estava aberto, o bairro produzia sua própria agenda, e ocupava o espaço o ano todo. Juntos (Teatro Procópio Ferreira, Biblioteca Érico Veríssimo e CREC), promoviam um evento anual que se chamava "Desvairando a Paulicéia" que duravam dias, com apresentação de poetas, bandas, exposição de artes, de colecionadores de vinil, de selos, espetáculos de teatro, de dança...

O bairro tinha 21 grupos de teatro, vou repetir porque é inacreditável mesmo: 21 grupos de teatro, 8 grupos de dança (incluindo balé, sapateado, dança Moderna, sem contar os grupos das escolas de balé do bairro), 5 grafiteiros trabalhando profissionalmente, 2 corais cênicos, 19 bandas de rock... E nem vou falar do esporte, dos times de bocha que foram campeões algumas vezes, representando a cidade; no bairro havia uma sala que grupos de Capoeira Angola e Regional dividiam o mesmo espaço, sem conflito, algo único. Sem contar os encontros para a prática de Yoga, Liam Gong, Tai Chi Chuan, Gatebol, que aconteciam gratuitamente, por estímulo dos próprios moradores, e tudo isso num bairro afastado do Centro.