São Bernardo está representada na Conferência Regional de Saúde Mental, realizada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em Santigo, no Chile, até esta quinta-feira (15). Usuária do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Centro, Sonia de Fátima Rosa foi convidada pelo Ministério da Saúde para participar do evento. Ela é presidente da Associação Mente Ativa (Amat), entidade que reúne pacientes da rede de saúde mental do município, e falará no encontro sobre a militância em prol da luta antimanicomial e da construção do protagonismo das pessoas em sofrimento psíquico.

“A maioria dos pacientes, como eu, sofreu durante décadas internada nos manicômios. Lá nós tínhamos o ‘destratamento’. Medicação forte, eletrochoque, camisa de força e nenhuma possibilidade de ressocialização. Antes vivíamos o horror. Agora, a base é o amor. E nós temos voz. Ninguém precisa falar pela gente, porque participamos ativamente e podemos opinar”, afirma Sonia.

Sonia é uma das cerca de 3.500 usuárias beneficiadas pela rede de saúde mental de São Bernardo, estruturada a partir de 2009. A Secretaria de Saúde aplicou a reforma psiquiátrica no município e substituiu o modelo de atenção vigente, baseado no confinamento das internações psiquiátricas, pela atenção ambulatorial humanizada e descentralizada. O cuidado às pessoas com transtornos mentais e/ou em sofrimento pelo uso abusivo de álcool e outras drogas passou a ser feito de modo a incentivar a autonomia e a ressocialização, em respeito aos direitos humanos e cidadania.

Atualmente, a cidade conta com oito Caps, que atendem a todas as faixas etárias. Sonia conta que a ampliação da rede de serviços fez com que muitas pessoas, antes isoladas do convício social, pudessem ter acesso ao tratamento, o que aumentou o número de usuários. “Começamos a nos reunir para fazer psicoterapia em grupo, criamos uma roda de conversa. E dessa iniciativa surgiu a Amat. Hoje realizamos essas rodas em seis Caps, sempre com o objetivo de fortalecer nossa busca pelo protagonismo e a luta contra o preconceito”, ressalta.

A expectativa de Sonia é poder deixar uma mensagem de esperança durante a conferência. “O mundo precisa ser melhor para todos. E nós temos uma boa experiência em São Bernardo, que pode ser compartilhada”, avalia.

A Conferência Regional de Saúde Mental na capital chilena terá palestrantes de países como Belize, Cuba, Brasil, México, Panamá, EUA, República Dominicana, Jamaica, Peru, Costa Rica, Trinidad e Tobago, Argentina e Paraguai. O objetivo é avaliar as metas do Plano Regional de Saúde Mental 2015-2020 e discutir os avanços alcançados pelos países desde a Declaração de Caracas, de 1990. Há 25 anos, o documento destacava a necessidade de mudanças na atenção psiquiátrica que garantissem o respeito aos direitos humanos.

A Opas e a OMS alertam que, em muitos países, os recursos destinados para as políticas públicas em Saúde Mental são insuficientes, e ressaltam que os transtornos mentais, neurológicos e causados pelo uso de álcool e outras drogas contribuem de maneira importante para a incapacidade e mortalidade prematuras. Além disso, as organizações pontuam que o preconceito e a exclusão social limitam ainda mais o acesso de quem necessita desse tipo de serviço.